terça-feira, 24 de agosto de 2010

Boletim de Conjuntura

Análise das variações referentes ao PIB

Thiago Marino Leão Cardoso
Orientador: Marcelo Dias Carcanholo

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro inicia o ano de 2010 em meio a otimistas perspectivas quanto à recuperação econômica brasileira, por um lado, e negativas previsões referentes à inflação, por outro.
De fato, a economia brasileira apresentou crescimento de, aproximadamente, 2,7%, ajustada a sazonalidade, em relação ao último trimestre de 2009 e de 8,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Contudo, devemos observar e analisar os fatores internos a este crescimento e suas perspectivas tanto do ponto de vista do crescimento quanto da inflação e outras restrições.


Análise da Variação dos Principais componentes do PIB em 2010

Mantendo a trajetória de recuperação apresentada no ano de 2009, o PIB brasileiro iniciou o ano de 2010 com crescimento de 8,9% em relação ao 1º trimestre de 2009, considerando-se os ajustes sazonais. Isto, contudo, torna-se pouco relevante se recordarmos que o resultado daquele trimestre fora de -0,91%, em relação ao último de 2008, e encontrava-se em um momento de estabilização interna pós-crise.
Porém, isto não significa que o primeiro resultado do PIB em 2010 seja negativo ou pouco relevante. Ao fazermos a comparação com o último trimestre de 2009 teremos um crescimento de 2,7% do PIB dessazonalizado e uma taxa acumulada dos últimos 12 meses de 2,5%.
Tais resultados são particularmente relevantes e refletem a recuperação e a aceleração da economia brasileira nestes últimos trimestres iniciadas no 2º trimestre de 2009.

Gráfico 1

Fonte: elaboração própria

Gráfico 2

Fonte: elaboração própria

Devemos, então, analisar as tendências dos componentes internos à economia brasileira e ao PIB e, desta forma, procurar encontrar os responsáveis pela recuperação e possíveis restrições à mesma.

Análise do PIB: Ótica da Oferta

A análise nos apresenta diversos resultados positivos para o 1º trimestre de 2010. Em comparação com os dados dessazonalizados do 1º trimestre de 2009, a Agropecuária cresceu 4,25% (primeiro resultado positivo em 4 trimestres nesta base de comparação), a Indústria cresceu 13,7% e os Serviços cresceram 5,5%. Já em relação ao último trimestre de 2009, temos crescimentos de 2,7% na Agropecuária, 4,2% na Indústria e 1,9% nos serviços.

Gráfico 3


Fonte: elaboração própria

Como podemos observar, a Indústria apresentou grande crescimento já neste 1º trimestre de 2010 e recuperou-se em relação aos índices pré-crise, apresentando índices 0,38% superiores aos do 3º trimestre de 2008. Desta forma, o Setor Industrial apresenta, no 1º trimestre de 2010, uma taxa acumulada de 12 meses equivalente a 0,03% e mantém a recuperação iniciada no 2º trimestre de 2009.
Quanto ao crescimento de 4,2% apresentado pela Indústria no 1º trimestre de 2010, podemos destacar o crescimento de 6,1% do Extrativismo Mineral e de 5% da Indústria de Transformação impulsionados pelo reaquecimento da economia interna e externa. A Construção Civil também apresentou crescimento significativo de 3,25% enquanto o subsetor de Energia, Água e Gás cresceu apenas 0,9% no período.
Vale ressaltar que o subsetor de Transformação apresentou a maior recuperação em relação ao 1º trimestre de 2009, com a retomada da produção interna, com variação de 17,2% na comparação direta.

Gráfico 4



Fonte: elaboração própria

Já o Setor Agropecuário também apresentou, no 1º trimestre de 2010, recuperação em relação ao 1º trimestre de 2009, tendo variação de 4,25%, e crescimento de 2,7% em relação ao trimestre anterior. Contudo, seu valor ainda se encontra inferior aos níveis pré-crise, -5,85% em relação ao 3º trimestre de 2008, indicando que o setor ainda levará algum tempo para se recuperar plenamente.
Enquanto isto, o Setor de Serviços, que não foi muito afetado pela crise, manteve sua trajetória estável e cresceu 1,9% em relação ao último trimestre de 2009. Neste caso, vale ressaltar o crescimento de 4,18% do Comércio e de 3,73% dos Transportes, em relação ao trimestre anterior.
Em comparação com o mesmo trimestre de 2009, o 1º trimestre de 2010 apresentou crescimento de 5,8% nos Serviços. Nesta base, vale novamente destacar o resultado do Comércio e dos Transportes, os quais apresentaram crescimento de 15,3% e 12,5%, respectivamente.

Gráfico 5


Fonte: elaboração própria

Podemos, então, reconhecer uma forte recuperação dos setores produtivos da economia brasileira e destacar, particularmente, os resultados da indústria para a retomada da atividade econômica e o crescimento do PIB no 1º trimestre de 2010, destacando sua retomada dos níveis pré-crise.
Devemos também ressaltar a retomada do crescimento no Setor Agropecuário e a reversão de seu quadro recessivo.

Gráfico 6


Fonte: elaboração própria

Análise do PIB: Ótica da Demanda

Ao analisarmos os componentes de Demanda do PIB poderemos observar que neste momento, no 1º trimestre de 2010, todos já retornaram aos níveis pré-crise, com exceção das Exportações. Além disso, podemos observar que todos os componentes apresentaram crescimento no 1º trimestre de 2010 tanto em relação ao primeiro quanto ao último trimestre de 2009. Mesmo assim, tanto as Exportações quanto a Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) permanecem negativas em relação à taxa acumulada dos últimos 12 meses.

Gráfico 7


Fonte: elaboração própria

A FBKF manteve o ritmo acelerado dos três trimestres e cresceu 7,4% no 1º trimestre de 2010, em relação ao último de 2009, e 26,2% em relação ao 1º trimestre de 2009.Este resultado mantém-se de acordo com o ritmo acelerado da indústria e aponta para a retomada dos investimentos e para a ampliação e renovação da capacidade industrial brasileira. Com isso, a FBKF alcançou os níveis pré-crise.
Outro componente da Demanda Agregada que apresentou forte crescimento nos últimos trimestres foram as Importações. Com crescimento de 13,1% em relação ao último trimestre de 2009 e 40,2% em relação ao 1º trimestre do ano passado, as Importações alcançaram, neste 1º trimestre de 2010, níveis 8% superiores aos pré-crise e não indicam trajetória decrescente.
Por outro lado, as Exportações apresentaram, no 1º trimestre de 2010, variação de apenas 1,7% em relação ao último trimestre de 2009, o que representa uma elevação de 14,6% em relação ao início daquele ano. Com isso as Exportações encontram-se ainda 6% inferiores aos níveis do 3º trimestre de 2008.
Enquanto isso, o Consumo das Famílias e do Governo mantiveram um crescimento modesto em relação ao último trimestre de 2009 de, respectivamente, 1,5% e 0,9%.

Gráfico 8


Fonte: elaboração própria

Podemos, então, observar que a variação conjunta do Consumo das Famílias e do Governo manteve-se inferior à variação total do PIB na comparação do 1º trimestre de 2010 com o último de 2009. Contudo, a FBKF e as Importações mantêm o ritmo de crescimento acelerado e descolado dos demais.
Vale, neste sentido, ressaltar o descompasso do crescimento das Importações em relação às Exportações e o risco referente à elevação da taxa de juros interna e da valorização cambial que tendem a agravar este quadro externo e reduzir o ímpeto da FBKF e do aumento da capacidade produtiva interna.


Análise da Composição do PIB

Composição do PIB: Ótica da Oferta
Ao compararmos as participações médias dos componentes de Oferta do PIB veremos que não houve grandes variações. Tanto a Indústria quanto os Serviços reduziram sua participação em menos de 1%, fechando o 1º trimestre em 25,6% e 68,2%, respectivamente. Na direção oposta, o Setor Agropecuário cresceu sua participação para 6,2%.
Contudo, devemos ressaltar que este não é um resultado incomum de se observar no 1º trimestre e não representa variações significativas na composição do PIB.

Gráfico 9


Fonte: elaboração própria


Composição do PIB: Ótica da Demanda


Passando nossa análise aos componentes de Demanda do PIB brasileiro veremos que o consumo das famílias manteve-se na liderança da demanda e apresentando considerável estabilidade em relação ao 1º trimestre de 2010, 63,73% neste ano contra 63,51% no ano de 2009. Os Gastos do Governo também se mantiveram razoavelmente estáveis e responderam por 19,03% da Demanda (equivalente a uma redução de 1,61p.p. em comparação ao mesmo trimestre de 2009).
Já os Investimentos (FBKF e Variação dos Estoques) manteve seu crescimento e participou como 18,89% da demanda total, uma elevação de 2,51p.p. em relação ao 1º trimestre de 2009. Por outro lado, a manutenção do fraco crescimento das Exportações frente às Importações levou o Saldo Comercial (saldo entre Exportações e Importações) a responder de forma negativa. O Saldo Comercial fechou em -1,65% do PIB, uma piora de 1,12p.p. em relação ao mesmo trimestre de 2009.

Gráfico 10


Fonte: elaboração própria


Conclusões

O ano de 2010 inicia-se com base na promessa de retomada econômica e crescimento. Como fomos capazes de observar, os diversos setores produtivos da economia apresentaram resultados positivos no 1º trimestre de 2010, com particular destaque à Indústria.
Esta retornou aos níveis pré-crise e apresentou crescimento superior ao PIB, variando 4,24% em relação ao trimestre anterior e 13,66% em relação ao início de 2009. Da mesma forma, a Formação Bruta de Capital Fixo manteve o ritmo de crescimento dos trimestres anteriores, variando em 7,39%. Tais resultados representam o reaquecimento interno da produção e dos investimentos, assim como a lenta retomada das exportações.
Contudo, também fomos capazes de observar a contínua deterioração das Exportações frente às Importações. Isto se deve principalmente a dois fatores: pelo lado das Exportações a ainda tímida retomada do comércio internacional e a maior concorrência; já pelo lado das Importações, o aquecimento interno somado à sobrevalorização do Real frente ao Dólar e ao Euro (o que também acaba por fragilizar as exportações).
No tocante a um possível processo inflacionário, vale destacar que a Formação Bruta de Capital Fixo tem respondido de forma crescente pelo aumento da demanda e que, desta forma, qualquer medida referente ao aumento da taxa de juros poderia ser abortiva ao processo de ampliação do potencial produtivo brasileiro.