segunda-feira, 25 de abril de 2011

Boletim de Conjuntura

Análise de Conjuntura do Mercado de Trabalho
Igor Laltuf Marques
Orientadora: Lérida Povoleri


Introdução

Em 2009, as principais economias do mundo sentiram os efeitos da crise internacional que teve início nos Estados Unidos. Seis meses após a quebra do banco Lehman Brothers já era possível ver claramente o estrago que a crise havia feito nos mercados de trabalho pelo mundo.
A Espanha foi provavelmente um dos países que teve seu mercado de trabalho dentre os mais atingidos. De setembro de 2008 a março de 2009 o desemprego no país subiu de 12,3% para 17,3%. Até mesmo a França que não faz parte dos PIIGS³ sofreu um aumento de 1,4% na sua taxa de desemprego. O Estados Unidos, país epicentro da crise, teve um aumento de 2,4% nos seis meses subseqüentes a crise.
No Brasil, o efeito não foi uma “marolinha” como divulgado pelo governo brasileiro no final de 2008. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um aumento de 7,6% para 9% no semestre seguinte a crise.

Gráfico 1



A previsão da Organização Internacional do Trabalho (OTI), é de que os países ricos só verão o nível de emprego voltar ao patamar pré-crise em 2015. Segundo a organização, a preocupação dos governos desses países com o elevado endividamento público os levou a remover incentivos fiscais antes do previsto, provocando danos ao mercado de trabalho. Já os países emergentes e em desenvolvimento devem retornar ao nível de emprego pré-crise já em 2010 (ILO, 2010).

A RESPOSTA DO GOVERNO BRASILEIRO À CRISE E A QUEDA NA TAXA DE DESEMPREGO

Ainda em 2009, em uma tentativa de fortalecer o mercado interno, o governo brasileiro começou a adotar medidas anticíclicas.

Para aumentar a demanda, o governo ampliou a desoneração fiscal e os programas de transferência de renda como o bolsa família. Essas ações combinadas ao aumento do nível de produção pelos empresários resultaram em um aumento da demanda. Os contínuos investimentos públicos dados pelo governo também impediram que a demanda diminuísse (GENTIL, 2010).
Além dos citados anteriormente, outro fator foi importante para a recuperação do nível de emprego no Brasil nesse período pós-crise: a ampliação do crédito. Esta foi realizada principalmente pelos bancos públicos brasileiros.
Esses fatores, conseqüentemente, auxiliaram o aumento do nível de emprego durante o ano pós-crise a se recuperar da queda inicial. Em outubro de 2009 a taxa de desemprego brasileiro já marcava 7,5%, ou seja, no mesmo nível que se encontrava antes da crise.

O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO EM 2010

O primeiro trimestre de 2010 no mercado de trabalho brasileiro foi marcado pelo grande aumento do número de empregos formais. Somente até o fim do mês de março obteve-se um saldo de 657.259 postos de emprego. Esse aumento do saldo de empregos* foi impulsionado por três setores: a indústria de transformação, a indústria de construção civil e o setor de serviços (Tabela 1).

*Saldo de empregos é a diferença entre empregados admitidos e demitidos
A área de construção civil só no primeiro trimestre de 2010 teve um saldo de 127.694 empregos. Esse valor representa 72,06% do saldo desse setor em todo o ano de 2009, que foi de aproximadamente 177 mil empregos. Os programas habitacionais, a expansão do crédito imobiliário, saneamento e as obras para os eventos esportivos de 2014 e 2016 permitiram essa expansão do setor (Tabela 1).
O setor de serviços se destaca por ser o que mais gerou empregos em 2010. Gerou um total de 1.018.052 empregos. Em segundo lugar ficou o comércio com cerca de 610 mil empregos. Em terceiro a indústria de transformação com 544.367 empregos.

Gráfico 2


O mês de dezembro geralmente apresenta um saldo negativo devido a efeitos sazonais entressafra agrícola, fim do ciclo escolar e encerramento de contratos de trabalho temporários. Mesmo assim o saldo negativo foi superior ao esperado já que nos anos anteriores, com exceção de 2008, ficou próximo de 300 mil empregos.
O único setor que não apresentou saldo negativo em dezembro foi o comércio, o que normalmente é registrado nesse período devido a contratações temporárias de fim de ano.

Tabela 1


Gráfico 3


Em 2010, a taxa de desemprego média nas seis principais regiões metropolitanas do país, também conhecida como taxa de desemprego, alcançou a marca de 5,3% em dezembro de 2010 após bater sucessivos recordes.
Apesar de subir para 6,1% em janeiro de 2010 a marca continua baixa. Esse aumento em janeiro já era esperado tendo em vista o fim dos contratos temporários efetuados em novembro e dezembro no setor de comércio.
Essa queda gradual do desemprego em 2010 ainda é reflexo da política anticíclica adotada pelo governo brasileiro após a crise internacional (GENTIL, 2010).

Gráfico 4


INFLAÇÃO X SALÁRIO MÍNIMO

O salário mínimo nominal brasileiro passou de 465 reais para 510 reais em janeiro de 2010. Já o salário mínimo real, que é o salário mínimo nominal com a inflação calculada pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) descontada, começou o ano em R$ 543,30 e fechou dezembro com R$ 514,79.
Em janeiro de 2011 o salário mínimo subiu para 540 reais. Mas após sair a divulgação do índice oficial de inflação do mês de dezembro, que veio acima do esperado, o governo decidiu aumentar para 545 reais o salário mínimo em março.


Gráfico 5


Mesmo com a inflação em alta em 2010, o salário mínimo real ainda se mantém em ritmo crescente se comparado ao mesmo período de anos anteriores. Ele marcou no mês de dezembro R$ 464,33 em 2008, R$ 499,72 em 2009 e R$ 514,79 em 2010.
Em 2010, a inflação calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano com uma taxa acumulada de 5,91%, a maior taxa desde 2004 quando foi registrado um aumento de 7,6% no ano (vide Boletim de Monetária).
Os principais responsáveis pelo aumento do IPCA em 2010 foram os alimentos, que subiram 10,39%. Já os produtos não alimentícios causaram menor impacto no salário mínimo nominal (4,61%).
Em 2010, o aumento nos investimentos nos mercado de contratos futuros de commodities pressionou a inflação e com isso a queda do salário mínimo nominal.
O aumento das commodities devido à especulação no mercado financeiro acontece devido a dois fatores: a alta liquidez mundial no cenário pós-crise e a falta de aplicações rentáveis para investir nos Estados Unidos e na Europa, entre outros.
Outro fator que também agrava essa intensificação na especulação das commodities é a falta de regulação no mercado. O presidente da França Nicolas Sarkozy já fala sobre a necessidade da regulação desse mercado. Só entre 2009 e 2010 US$ 131 bilhões saíram de fundos e investidores para contratos de commodities (PRATES, 2011).

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Não há dúvidas que a atuação do governo brasileiro foi imprescindível para a estabilidade do mercado de trabalho nacional. Com base nos indicadores atuais, é possível afirmar que o mercado de trabalho brasileiro se recuperou mais rápido do que previam os cenários mais otimistas no período pós-crise em 2008.
A taxa de desemprego marcando 5,3% e o salário mínimo que não perdeu seu poder de compra mesmo em um ano de inflação elevada comprovam o otimismo do atual cenário econômico no mercado de trabalho brasileiro.
Esse período de otimismo vem acompanhado do crescimento de 7,5% no PIB de 2010. Os responsáveis por esse crescimento na produção são principalmente investimentos ligados ao pré-sal e na área de construção civil.
Externamente o cenário é bastante diferente. A economia americana ainda se encontra em fase de recuperação da crise e elevado desemprego. A Europa tenta se recuperar e realizar alguns ajustes no que diz respeito às políticas da União Européia após as recentes crises da Grécia e da Irlanda. China e Índia se recuperaram mais rápido e mantém o alto crescimento. (BUAINAIN, 2010)
Para 2011 as perspectivas continuam positivas, mas dificilmente o desemprego cairá tão intensamente quanto em 2010. Essa queda moderada do desemprego em 2011 deve-se a previsão do crescimento brasileiro de apenas 5% em 2011 e a política fiscal restritiva do governo. (MANTEGA, 2011).

BIBLIOGRAFIA:

BUAINAIN, A. M.; Cenários Pós Eleição. Palestra realizada pela Escola Nacional de Seguros. Rio de Janeiro – RJ, em 23 de setembro de 2010.

GENTIL, D. L.; Victor Leonardo de Araújo . Avanços, recuos, acertos e erros: uma resposta da política econômica brasileira à crise econômica internacional. 2010. (Apresentação de Trabalho/Seminário).
INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION (ILO), World of Work Report 2010 - ILO says long "labour market recession" worsens social outlook in many countries. Disponível em: . Acesso em 28 de março de 2011.
MANTEGA, G.; Mantega considera bom crescimento entre 4,5 e 5% em 2011. Ministério da Fazenda, disponível em: . Acesso em 22 de março de 2011.
PRATES, D. M. . A alta recente dos preços das commodities. Revista de Economia Política, v. 27, p. 323-344, 2011.

Boletim de Conjuntura

Setor Externo

Luma Souza Ramos
Orientador: Paulo Henrique Araujo


O ano de 2010 foi muito peculiar para a economia brasileira e para o setor externo. Isso porque ao longo do ano foi observado o mesmo movimento especulativo que existia no período pré-crise subprime. Ou seja, uma grande entrada de capitais de curto prazo atraídos pela nossa alta taxa de juros. O que refletiu uma forte valorização do real frente às moedas estrangeiras e em especial, ao dólar.
Observou-se, também, no período o aumento dos déficits em transações correntes e, principalmente, a queda dos superávits na balança comercial. Até novembro de 2010 o saldo na balança comercial era de US$312 milhões, uma variação negativa de aproximadamente 50% comparada ao ano passado. Isso motivado basicamente pelos bens importados estarem mais baratos do que a produção interna.
Outro assunto polêmico no cenário mundial este ano foi a crise na região do Euro. Países como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha sofreram com o forte desemprego e a falta de investimentos na região. E dado o fato da Alemanha não ter condições de segurar todos os países, um clima de instabilidade se instaurou nesses países. Uma vez que, a política monetária da União Européia está diretamente ligada aos interesses alemães, e esses não se sujeitaram a sofrer uma deflação em prol da ajuda aos países mais periféricos da região. E a única saída encontrada por esses países foi promover um forte corte nos gastos, reduzindo o número de funcionários públicos, seus salários e os benefícios sociais. Aliado a isso, a Irlanda e a Grécia tiveram de pedir ajuda junto ao FMI e à União Européia e aumentaram a taxa de juros interna superando a marca ‘psicológica’ dos 7% para tentarem se recuperar. No ano, a Espanha e Grécia terminaram com uma variação negativa do PIB no valor de 0,1% e 4,5%, respectivamente. A Irlanda, segundo previsões das agências econômicas irlandesas, deve apresentar um déficit público anual de 32% do PIB, um aumento significativo, tendo em vista que em dezembro de 2009 esse montante era de apenas 11,6%.
Outro destaque, como já citado anteriormente, foi a guerra cambial que se instaurou nos países asiáticos, para assim ampliar a competitividade dos seus bens e produtos. A estratégia utilizada pela China de segurar o Yuan desvalorizado foi fortemente atacada pelos Estados Unidos que ao longo do ano pressionou para a flutuação desta. O embate se deu uma vez que o câmbio chinês se encontra desalinhado, extremamente desvalorizado, tornando assim os produtos americanos e basicamente de todo o mundo mais caros aos da China. O que tornou as exportações mundiais mais debilitadas e levou a gigantes superávits comerciais chineses aumentando apenas suas reservas internacionais. O clima de protecionismo chegou ao ponto de na última Conferência do G20, em novembro na Coréia do Sul ter havido uma discussão sobre os rumos que a política monetária internacional deveria levar não se tendo chegado a nenhum acordo. Para o governo brasileiro, era fundamental adotar ações coletivas de combate à manipulação cambial levando o ministro da Fazenda, Guido Mantega a sugerir uma cesta de moedas, como ordem monetária mundial. O que não teve grandes repercussões.
Em 2010, a economia americana sofreu com o desemprego, no mês de novembro a taxa atingiu o maior valor desde abril, um total de 9,8%, o que representa 15,1 milhões de pessoas desempregadas. Nos três meses anteriores a taxa registrada foi de 9,6%. Apenas 39 mil empregos foram criados em novembro, abaixo da expectativa de analistas. Em outubro de 2010, por exemplo, foram criadas 172 mil vagas.
Foram gerados empregos no setor de serviços empresariais, saúde e mineração, e o número de vagas no varejo e na indústria caiu. Ademais disso, o fraco mercado imobiliário apresentou uma situação de pessimismo e incertezas nessa economia. Mas os economistas esperam uma reversão dessa situação no próximo ano, como uma queda do desemprego.
O PIB americano em 2010 fechou com um crescimento anualizado de 2,8%, em aproximadamente 14 trilhões de dólares. O consumo foi o principal componente agregado estadunidense com uma variação positiva de 4,1% e os gastos públicos apresentaram uma queda de 2,4%.
O PIB brasileiro no ano teve um crescimento de 7,5% o maior crescimento desde 1986 quando também foi registrada essa variação. Tal valor foi superior a média mundial anual que foi de 5% e às taxas atingidas pela União Européia, com 1,7%, EUA, com 2,8%. Contudo ficou abaixo da China, com 10,3% e Índia, com 8,6%.
-Balança Comercial
Como já apontado na introdução a balança comercial apresentou um aumento expressivo das importações ao longo desse ano, fortemente influenciado pelo cambio valorizado. No mês de novembro, a balança comercial teve um superávit de US$312 milhões, 50% a menos do que o mesmo mês no ano passado. Em comparação com outubro desse mesmo ano a queda foi de 83%. Tendo como forte precursor o aumento das importações, que no mês de novembro fechou em US$17,376 bilhões, contra US$17,688 bilhões das exportações. No último mês do ano a balança comercial fechou com um saldo de US$ 5.367 milhões tendo as exportações com um valor de US$ 20.918 milhões e as importações US$15.551milhões. No ano de 2010 houve um superávit de US$ 20,3 bilhões nessa conta, com um total de US$ 201,9 bilhões das exportações e US$ 181,6 bilhões das importações. As exportações encerraram o ano com crescimento de 32,0%, enquanto as importações tiveram aumento de 42,3%.



Gráfico 1




No gráfico a seguir poderemos analisar o debate atual da economia brasileira, se há a reprimarização da pauta de exportação ou não. O que se observa é uma tendência que começa a partir de 2009 de crescimento dos valores das importações, ou seja, está ocorrendo um vazamento maior de renda. Tendo relevância o aumento da importação dos bens de capital. Isso é fruto do crescimento da renda nacional desde a crise de 2008/2009 e a forte entrada de capital especulativo que gera uma valorização ilusória do real.
Tal fenômeno acaba prejudicando a competitividade dos produtos nacionais no mercado externo e interno, pois os produtos importados estão cada vez mais baratos. O que está levando o país a se especializar em bens primários e de baixo valor agregado. Nos últimos meses do ano as exportações apresentaram um grande avanço, merecendo destaque o setor de produtos básicos. Isso é preocupante, visto que o país terá que ampliar suas vendas para pagar as suas importações dado que haverá a deterioração dos seus termos de troca. Aliado a isso, o país tem com um contexto histórico - estrutural de déficits nas contas de rendas e serviços, tornando assim o saldo negativo das transações correntes. Dessa maneira, o país para fechar sua conta da Balança de Pagamentos deverá ampliar a entrada de capitais, se sujeitando ao capital externo e altas taxas de juros.



Gráfico 2

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Ipeadata

As exportações ao longo do ano apresentaram um bom desempenho com relação aos seus preços, confirmando assim uma tendência dos últimos meses. De maio de 2009 até outubro de 2010 o índice de preço das exportações totais registrou crescimento de 35,3%. Vale destacar os resultados que os produtos básicos têm apresentado, com aumento de 55,2% na mesma base de comparação. Os produtos semimanufaturados e manufaturados também registraram variação positiva nesse período, de 48,4% e 14,5%, respectivamente.
Com relação ao quantum exportado os resultados também estão sendo positivos, conforme comprova o gráfico abaixo. Ao longo do ano todos os segmentos apresentaram uma melhora, mas a mais significativa foi do setor de bens básicos com um avanço de 7,5% no mês de outubro em relação ao mesmo mês do ano passado. Segundo a FUNCEX (2010), o quantum exportado tem crescido desde setembro de 2008, contudo, ainda acumula queda de 6,9%. Os produtos básicos continuam como a única exceção entre as classes de produtos, registrando taxa de crescimento positiva de 8,8% nessa base de comparação. Os produtos manufaturados e semimanufaturados têm quedas de 19,3% e 4,6%, respectivamente.

Gráfico 3

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Ipeadata

Já as importações vêm apresentando um crescimento liderado pelo quantum, que no mês de outubro teve variação positiva de 24,9% em relação ao mesmo mês de 2009. Os preços tiveram um crescimento de apenas 3,8%. No acumulado do período janeiro-outubro de 2010, comparativamente ao mesmo período de 2009, o quantum registrou variação positiva de 40,3%, enquanto os preços tiveram aumento de 2,4%, conforme dados da FUNCEX.
Entre os setores, todas apresentaram aumento de quantum das importações no mês de outubro, sendo que o desempenho mais expressivo foi o dos bens de capital (32,7%). Em seguida, vieram os bens de consumo não-duráveis (30,8%), os bens intermediários (24,8%), os bens de consumo duráveis (21,8%) e os combustíveis (13,5%). No acumulado dos dez primeiros meses do ano, os maiores destaques foram os bens de consumo duráveis e os bens intermediários, com taxas de crescimento de 51,9% e 43,4%, respectivamente.
Com relação ao ano de 2010, segundo dados da FUNCEX, o aumento do valor exportado deveu-se tanto aos preços quanto ao quantum, cujas variações foram de 20,5% e 9,5%, respectivamente. O aumento das importações em 2010 foi devido ao quantum, que acumulou variação positiva de 37,0% em relação ao ano anterior. Essa variação positiva ocorreu em todos os setores, mas o setor de bens de consumo duráveis teve destaque.
O crescimento dos preços de exportação ocorreu em todos os produtos, sendo maior nos bens básicos, com uma ênfase em minério de ferro e na extração do petróleo. Houve também um aumento do quantum exportado com realce para os básicos que cresceram 11,4%.

-Conta corrente
A conta de serviços fechou o ano com um déficit de US$31, 071 milhões, com as viagens e aluguéis de equipamentos representando 38% do total das despesas. A conta de rendas apresentou um saldo negativo de US$39, 558 milhões, tendo a renda dos investimentos enviados alcançado US$ 40, 057 milhões. Desse total, 22,2% dos lucros e dividendos das multinacionais foram remetidos aos Países Baixos, 17% às matrizes americanas e 12,1% à Espanha. Sendo que 60,6% é fruto do setor secundário, principalmente nas indústrias de veículos automotores e bebidas.

-Conta de capital e financeira
A conta de capital e financeira apresentou um intenso fluxo de capitais especulativos ao longo do ano. Esses têm como principal característica serem de curto prazo, ou seja, não transbordam para o setor produtivo e apenas aproveitam a expectativa de valorização cambial futura e o diferencial de juros que os beneficia. Isso porque para incentivar os investimentos e impulsionar a demanda interna, os países desenvolvidos estão apresentando uma baixa taxa de juros real , estando hoje, entre 0,5% e 1%, ou então em alguns casos, negativas. O que está atraindo cada vez mais dólares para cá.
Não obstante isso, o Brasil recebeu ano passado o total de US$ 48,4 bilhões em investimento estrangeiro direto, o que representa 4,31% dos fluxos globais de dinheiro aplicado em atividades produtivas, segundo dados da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e do Banco Central brasileiro. Colocando o país na ‘’rota do dinheiro’’ como apontado por alguns economistas. Tal resultado mostra como o país vem crescendo no cenário mundial. No ano de 2006 detinha 1,3% desse fluxo e se comparado ao ano passado, 2009, houve uma alta de 86,8% frente aos US$ 25,9 bilhões atraídos naquele ano. Este valor supera os aportes recebidos por Rússia, México, Índia e Reino Unido e ainda significou o recorde de recebimentos. Além disso, o país recebeu o saldo de US$67.794 milhões em investimentos estrangeiros de carteira durante o ano.
As reservas internacionais brasileiras fecharam o ano no valor de US$288,6 bilhões com previsões de contínuos acréscimos ao longo do ano de 2011.

-Taxa de câmbio
Contudo tal movimento aliado à elevação dos depósitos compulsórios (o que retirou do mercado cerca de R$ 61 bilhões) tem se tornado traiçoeiro no momento em que o real se valoriza no contexto mundial e as reservas internacionais se ampliam. No gráfico 4 poderemos ter um maior entendimento dessa situação.
E para frear a forte entrada de capital foi aumentado o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), primeiramente para 4% e depois, 6%. O que não surtiu muito efeito na economia, dado que em novembro a entrada de recursos foi de US$2,2bilhões.



Gráfico 4


A média da taxa de cambio comercial no mês de dezembro foi de R$1,66 um valor que representa uma valorização do real de quase 2% comparado com o mês de novembro. Com relação ao mesmo mês do ano passado, o real apresentou uma valorização de 4,3%, quando a moeda nacional era negociada no mercado externo a uma cotação de R$1,74.
Conclui-se então, que o valor do real se encontra em uma dinâmica de valorização dentro do cenário internacional, dado as elevadas taxas de juros internas e ao ritmo de crescimento econômico brasileiro. Contudo essa tendência é preocupante para a economia nacional, pois, dentre outros fatores, prejudica as suas exportações e a produção interna . E o país pode estar perdendo espaço dentro do comércio mundial. Além disso, não existem evidências de que no ano 2011 essa tendência seja revertida, as intervenções do Banco Central no mercado de câmbio aparentam serem as únicas medidas utilizadas pelo governo para frear a valorização do real.