domingo, 27 de junho de 2010

Resenha

Comércio Brasil- China em moeda local: uma saída brasileira???

Muito tem se ouvido recentemente sobre o possível comércio entre Brasil e China a ser transacionado entre moedas locais. Isso, eliminaria a conversão do real ou do yuan para o dólar norte-americano pelo importador, e dessa moeda para a do país exportador.
Essa substituição monetária tem por objetivo ajudar a reduzir os custos do comércio, fortalecer as moedas locais e diminuir as pressões sobre o câmbio. Adicionado a isso, promoveria a ampliação das relações comerciais e dos fluxos de investimento entre os países.
Tal medida foi implementada pelo Brasil e Argentina em 2008, com um objetivo em comum, facilitar as relações comerciais. Tendo como resultado um relativo aumento das transações bilaterais. Contudo, o desconhecimento dessa possibilidade por parte de muitos empresários, a entrada de produtos chineses e o presente protecionismo existente, inibiram as expectativas dos seus elaboradores.
Mas o que realmente está em pauta para a China não são as possibilidades de investimento brasileiro e nem a possibilidade de restrição externa devido a escassez de dólar, mas sim a intervenção estratégica na região e uma possível mudança da moeda de reserva mundial. Dado que hoje, os maiores parceiros comerciais são os paises em desenvolvimento, os maiores níveis de crescimento dessas nações, o cenário econômico estável e lucrativo a longo prazo e uma possível hegemonia chinesa na América Latina. Além disso, o Brasil seria um parceiro estratégico por ter grande poder regional.
Entretanto, existem obstáculos para esse comércio bilateral: distância geográfica, diferentes culturas, sistemas políticos e econômicos e estruturas sociais. Mas, fazem parte do mundo em desenvolvimento, tiveram em suas respectivas historias experiência de exploração e opressão pelo colonialismo e imperialismo e enfrentam hoje um desafio de maior inserção nas questões que permeiam as agendas internacionais. Quanto ao aspecto econômico, há pragmatismo de ambas as partes, mas há também espaço para promover uma cooperação baseada em princípios comuns, como: do lado chinês cooperação estratégica, política econômica e tecnológica e da parte brasileira um maior mercado consumidor bem como o fato da China ser o pais com maior crescimento econômico recente..
Assim, chineses e brasileiros, seriam beneficiados com o incremento da corrente de comércio. Além disso, os dois países apresentam-se em produtos como economias complementares e em outros, concorrenciais. No primeiro caso a China precisa de alimentos que aqui são produzidos em abundância. A China também é detentora de tecnologias bastante sofisticadas na área espacial e em outros setores, que poderiam ser transferidos ao Brasil. Em conseqüências dessas trocas, devem surgir novos empregos e empresas em ambas as nações.
Os dois países são também concorrentes, uma vez que em setores manufatureiros e de produtos de baixa tecnologia como brinquedos e calçados, disputam os mercados africanos e latinos.
As eventuais diferenças entre as moedas, no entanto, precisariam ser compensadas pelos bancos centrais do Brasil e da China. De onde surgem os primeiros problemas dessa política. Uma vez que ambos os bancos centrais têm regras próprias.
Os defensores dessa maior integração comercial afirmam que esse processo de maior integração comercial significaria uma oportunidade do Brasil aumentar sua participação no comércio mundial, dada sua baixa influência atualmente. Aliado a isso, representaria mais um desafio para a economia brasileira. Esse argumento pressupõe também o crescimento nacional baseado na expansão do consumo interno chinês.
Os economistas contrários a essa política utilizam o segundo argumento; o comércio existente hoje entre esses dois países é prejudicial à indústria brasileira. Isso devido aos baixos custos de produção chinês e a grande competitividade entre seus produtos no mercado mundial e no mercado interno brasileiro. Outra característica é o fato do Brasil exportar para a China produtos primários, e intermediários, principalmente grãos triturados, minério de ferro e óleos brutos.Esses produtos são responsáveis por quase 77,8% do total exportado, em termos de valor. Enquanto as importações nacionais estão baseadas em produtos com média e alta tecnologia. Isso vem gerando um déficit no balanço comercial bilateral brasileiro vis a vis a China.
Outra problemática seria as eventuais diferenças entre as moedas que precisariam ser compensadas pelos bancos centrais de ambos os países. Dado que os bancos centrais têm regras próprias, essas precisariam ser reformuladas, caso essa política entrasse em vigor.
Assim, cria-se um impasse: até que ponto a intensificação do comércio com a China é benéfico para o mercado de trabalho brasileiro e sua indústria? A evolução das relações comerciais bilaterais mostra uma especialização; a sofisticação das exportações chinesas e o crescimento do comércio intra-industrial, através do qual ela vem se dedicando aos bens finais e importando bens intermediários. Dessa forma, o país vende ao Brasil produtos com maior conteúdo tecnológico. Uma característica também presente no comércio com o Japão e União Européia.
Também deve ser lembrado a grande diferença histórica e cultural desses países, que refletem hábitos de consumo diferenciados.
Logo, deve-se concluir que o aumento das relações comerciais com a China, pode trazer muitas vantagens para os brasileiros, como já vem ocorrendo desde 2003 com o aumento das vendas de commodities àquele país. Contudo, o mais relevante que se deve pensar nessa hora são os impactos para o setor produtivo nacional. Será que o Brasil deve-se contentar em ser exportador de bens de baixo valor agregado e que pouco estimulam o desenvolvimento tecnológico interno?. Ou deve se voltar para o setor industrial e tentar promover o desenvolvimento nesse setor, criando infraestrutura para isso ? .Dessa forma, não seriam suficientes, assim, acordos desse porte, mas, diversas reformas estruturais internas.

Luma Souza Ramos


Referências bibliográficas:
Castilho.MR, 2007 -Impactos Distributivos do Comércio Brasil-China: Efeitos da intensificação do comércio bilateral sobre o mercado de trabalho brasileiro.
Silva, SD,2004- A parceria estratégica América Latina-China: Uma alternativa `a hegemonia dos Estados Unidos?
Site Brasil Econômico: http://www.brasileconomico.com.br/noticias/oneill-defende-uso-de-moeda-local-no-comercio-entre-brics_80817.html
Site Globo 21: http://www.fractalconsult.com.br/imprensa/internet/Global21_moedas%20amplia%C3%A7%C3%A3o%20do%20com%C3%A9rcio%20com%20moeda%20local%20%C3%A9%20bem%20recebida_06.04.09.pdf





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