domingo, 11 de setembro de 2011

Boletim de Conjuntura

Boletim de Conjuntura do 1º trimestre de 2011


O PIB brasileiro apresentou resultado positivo no 1º trimestre de 2011. A economia avançou cerca de 1,3%, com base nos dados dessazonalisados, em comparação com o 4º trimestre de 2010. Este crescimento foi impulsionado pelo setor Agropecuário, o qual apresentou aumento de 3,3%, e pelo setor Industrial, cujo crescimento foi de 2,2%, na variação trimestral, juntamente com a aceleração da formação bruta de capital fixo (FBKF), que teve alta de 1,2% neste mesmo período, depois de ter apresentado crescimento trimestral de apenas 0,4% no último trimestre de 2010.
Por outro lado, nota-se que as medidas do governo para desacelerar a economia e, com isso, combater a inflação, começaram a surtir efeito. No 1º trimestre de 2011 o consumo das famílias aumentou cerca de 0,6% baseado nos dados acumulados de 12 meses, registrando a menor alta desde o final do ano de 2008, quando o país sentia os efeitos da crise financeira. O movimento de queda do consumo das famílias nesse 1º trimestre foi, em boa parte, gerado pela redução do crédito.


Análise da Variação dos Principais componentes do PIB no 1º trimestre de 2011

O PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2011, ao ser comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, cresceu cerca de 4,2%. Mesmo sendo considerado um resultado positivo, a taxa de crescimento do PIB vem decaindo desde o segundo trimestre de 2010.
A taxa de crescimento do PIB foi motivada pela Indústria que decresceu se comparado ao mesmo trimestre do ano de 2010 (3,4%, menor índice desde o primeiro trimestre de 2010). Outro componente para a redução do ritmo de crescimento foi o aumento das importações, que cresceram em 13,2%, ao passo em que as exportações se ampliaram em apenas 4%. Esse crescimento desigual pode ser atribuído, principalmente, à condição de supervalorização da taxa de câmbio.

Gráfico1






Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Gráfico 2
Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Análise do PIB: Ótica da Oferta

O crescimento do PIB no 1º trimestre, comparado ao mesmo período do ano passado pelos dados dessazonalisados, deveu-se ao incremento do valor adicionado dos três setores da economia brasileira. A começar pelo setor Agropecuário, que apresentou aumento de 2,7%, o qual pode ser explicado pelo aumento da produtividade e o aumento das safras das commodities.
O setor Industrial acelerou, apresentando 3,3% no 1º trimestre baseado em dados acumulados de 12 meses.As maiores expansões ocorreram na Construção Civil (5,1%) e em Eletricidade e Gás, Água e Esgoto e Limpeza urbana (4,9%). Além disso, a Indústria de Transformação cresceu 2,4%, sob influência do aumento da produção de máquinas e equipamentos; refino de petróleo e álcool; minerais não metálicos; e indústria de automóveis. Entretanto, a Extrativa Mineral apresentou a maior queda desse setor, desacelerando a expansão de 14,8% para 4,1%, comparado ao mesmo período no ano passado ,o que está relacionado à redução da demanda mundial de ferro, manganês, bauxita e cobre.

Gráfico 3

Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Gráfico 4

Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA


Gráfico 5





Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Nota-se que, apesar de um resultado relativamente bom, a Indústria passa por um processo de diminuição da produção, apresentando quedas significativas desde o primeiro trimestre de 2010 (15,1%) e nos períodos seguintes (13,8%; 8,4%; 4,3%), apresentando, neste trimestre, 3,4%.

Análise do PIB: Ótica da Demanda

Pelo lado da demanda interna, analisando dados dessazonalisados, o destaque se dá para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), que cresceu 8,9% em comparação ao mesmo período do ano passado, impulsionada pela expansão da importação e da produção interna de máquinas e equipamentos.
Já o Consumo das Famílias apresentou desaceleração, pois analisando os dados trimestrais, a variação do 4º trimestre de 2010 foi de 2,35%, passando para 0,64% no 1º trimestre de 2011.
Através desta desaceleração do Consumo, notam-se o início das medidas de contenção de crédito criadas pelo governo a fim de combater a inflação. Todavia, os Gastos do Governo apresentaram aumento de 2,2% em relação ao primeiro trimestre de 2010.
Ao analisar a demanda externa, tanto as exportações quanto as importações apresentaram aumento (4,% e 13,2%, respectivamente) comparando com o mesmo período do ano passado. A taxa de crescimento das importações apresentou-se mais elevada que a das exportações devido à taxa de câmbio valorizada, fazendo com que aumente ainda mais a entrada de bens estrangeiros no país.

Gráfico 6

Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Gráfico 7



Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA


Análise da Composição do PIB

Composição do PIB: Ótica da Oferta

Com base nos dados referentes à composição do PIB no 1º trimestre de 2011, podemos observar que a Indústria superou o resultado do mesmo semestre de 2010 (26,21% do PIB em 2011 contra 25,51% em 2010) e mesmo o de 2008(26,10%). Durante este mesmo período, a Agropecuária respondeu por 5,74% do PIB (contra 5,86% e 6,64% em 2010 e 2008, respectivamente) ao passo em que os Serviços foram responsáveis por 68,05% do mesmo (contra os 68,63% e 67,27 e 2010 e 2008).

Gráfico 8



Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Composição do PIB: Ótica da Demanda

Voltando-nos para os componentes de Demanda do PIB, veremos que apesar do fraco crescimento apresentado pelo Consumo das Famílias durante o 1º trimestre de 2011, este não perdeu espaço na determinação se comparado ao mesmo período de 2008 e 2010. Na verdade, não apenas a participação do Consumo das Famílias no PIB cresceu do último trimestre de 2010 para o 1º de 2011 (de 59,15% para 63,37% do PIB), como também superou os valores do mesmo período de 2008 (60,77%) e 2010 (63,17%). Isto representa uma recuperação da tendência apresentada durante o ano de 2010, no qual a sua participação havia sido decrescente.
Os Gastos do Governo, reduziram sua participação durante o 1º trimestre do ano, representando 19,04% no 1º trimestre de 2011. Devemos, contudo, ressaltar que tal redução em termos relativos do PIB é a maior para esta época do ano desde 2006 (18,74%). Já os Investimentos, que responderam por 18,71% do PIB, voltaram a ampliar a sua participação em relação ao mesmo período do ano anterior, mas sem alcançar o valor relativo de 2008 (20,67%).
Por fim, a Balança Comercial voltou a ampliar o seu resultado negativo frente ao PIB e representou um saldo negativo de 1,22%.


Gráfico 9

Fonte: elaboração própria; Dados: IPEADATA

Conclusões

Com a economia brasileira registrando um crescimento do PIB de 1,3%, em comparação com o 4º trimestre de 2010, gerando cerca de R$ 939,6 bilhões e, no acumulado de 12 meses, o PIB aumentou em cerca de 6,2%.
Outro ponto para esse trimestre foi a taxa de crescimento do Consumo das Famílias ser inferior à FBKF. Esse enfraquecimento foi causado pelas medidas de restrição ao credito adotados pelo Banco Central a fim de diminuir as taxas de inflação.
O Consumo das famílias variou, em relação ao trimestre anterior, 0,6% (variação esta, inferior à apresentada no trimestre anterior quando havia sido de 2,3 %). Essas medidas de restrição adotadas afetam aos setores que dependem do crédito e, além disso, aumentou as exigências para a concessão de crédito para a pessoa física.
Ao analisar a ótica da demanda, a taxa acumulada dos 12 meses, com o ajuste sazonal, da FBKF apresentou uma desaceleração, passando de 28,7% do 1º trimestre do ano de 2010 para 8,7% no 1º trimestre de 2011. Já o Consumo das Famílias apresentou um resultado estável quanto à taxa acumulada durante o ano, mantendo-se entre 6% a 8%.
Conclui-se que houve um pequeno crescimento por parte do Consumo das Famílias na participação do PIB total passando de 59,15% em 2010 para 63,37% em 2011 na composição do PIB. Já a despesa com o Consumo da Administração pública reduziu-se relativamente à composição do PIB (24,5% no 4º trimestre de 2010 para 19,04% no 1º semestre de 2011).

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Resenha: A liberdade homossexual/homoafetiva


Daniel Soriano e Tamlyn Mores

O movimento homossexual vem ganhando relevância no contexto nacional. Podemos constatar isso com a maior evidência desse assunto na mídia e até no aumento do número de políticos que defendem a causa homossexual. Fica explícito que há uma maior aceitação na sociedade, porém ainda falta um maior esclarecimento das causas e maior entendimento dessas características de personalidade por parte da população.

Há divergências se a homoafetividade é determinada geneticamente ou se é fruto do ambiente em que a pessoa é criada. Foi realizada uma pesquisa pelo geneticista Dean Hamer (Instituto Nacional de Saúde dos EUA), que concluiu que pais homossexuais (assumidos ou não) podem transmitir características homoafetivas aos filhos. Pode-se argumentar que a criação é o principal determinante para a escolha sexual. É dito que a falta de um dos pais e a vivência fora da família podem ser algumas dessas razões. Há ainda alguns defensores que afirmam que o capitalismo, a industrialização e a urbanização contribuíram para o aparecimento de diferentes estilos como por exemplo, góticos, hippies e inclusive homossexuais. Porém, no momento, os estudiosos concordam que não é apenas um fator que determina a opção sexual.

Independentemente, o homossexual é um cidadão. Ao passo que seus deveres são igualmente exigidos, alguns de seus direitos são restringidos pela sociedade. Como no caso da união civil e da adoção de crianças.

Recentemente o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável para casais do mesmo sexo. No entanto, apesar da decisão favorável, a corte não se manifestou sobre a possível extensão dos direitos, como casamento, adoção e inseminação in vitro.

Apesar dessa decisão já ser um passo para uma futura conquista de outros direitos inerentes, por que não seguir exemplos de outros paises, como os Estados Unidos, e já reconhecer a união cível? Isto representaria uma igualdade de direitos. Contudo há ainda aqueles de opinião contrária, os quais acreditam que esta atitude seria um desrespeito à formação familiar tradicional e aos “bons costumes”.

Outro ponto de constante discussão é a adoção. O principal ponto discutido por aqueles que julgam ser indevida a adoção por casais homossexuais é a ausência de uma família convencional, que pode ocasionar em problemas psicológicos para a criança e até influenciá-la na escolha sexual. Mas seria justo em um país com tantos órfãos, os casais homossexuais não terem o direito de adotar essas crianças e oferecerem uma vida melhor para as mesmas? Fica evidente que o embate não atinge diretamente o casal homossexual, mas também muitas crianças que ainda ficam sem uma família, e moram a vida toda num orfanato ou até mesmo na rua.

Vale ressaltar que o Brasil ainda permanece um país de grande tradição Católica e muitos dos nossos conceitos são influenciados pela Igreja. É importante esclarecer que os dois pontos de vista possuem argumentos consistentes, e talvez por isso esse seja um problema de difícil resolução. Há alguns séculos, nascer canhoto era considerado bruxaria, sendo a pessoa julgada pela sociedade. Talvez com o passar do tempo a homoafetividade não seja vista com tanta estranheza e sim seja mais uma especificidade individual.


Bibliografia:
http://www.conjur.com.br/2011-mai-05/supremo-tribunal-federal-reconhece-uniao-estavel-homoafetiva
http://www.mbdias.com.br/hartigos.aspx?77,14
A polêmica sobre as causas do homossexualismo: Lima, Raimundo de;Revista espaço Acadêmico; 13 de setembro de 2009

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Resenha: Bolha imobiliária brasileira: Factível ou não?



Rômullo Carvalho da Silva e Victor Mamede


Uma rápida olhada nos prédios em construção no Rio de Janeiro ou em São Paulo já se nota que a atividade encontra-se em pleno vapor. Só que nem tudo são flores, e o preço a ser pago é, literalmente, alto. Com os imóveis sofrendo altas astronômicas, aliado à crescente migração de investidores para o setor imobiliário nos últimos anos, economistas e especialistas se dividem ao falar da existência ou não de bolha nesse setor.

Se por um lado o governo começa a fechar a torneira do crédito, por outro o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, não acredita na hipótese de bolha: "No Brasil, o volume de crédito imobiliário ainda é inexpressivo se comparado ao PIB e, portanto, acredita-se que o atual ciclo virtuoso deve se manter ao longo dos próximos anos". A discussão já deixa um sinal amarelo na economia brasileira, uma vez que o setor imobiliário foi o protagonista da crise norte-americana de 2008. Então, existe ou não? Quais são os argumentos dos que acreditam e dos que repudiam a idéia de bolha?

O conceito

A origem de qualquer bolha remete a um período em que a economia está aquecida e há ampliação na oferta monetária. Quando há essa expansão, grande parte do dinheiro vai para aqueles setores que mais prometem retornos. No Brasil, a bolsa de valores e o setor imobiliário receberam uma quantidade maciça de dinheiro. Para exemplificar, basta olhar o grande aumento do índice Ibovespa nos últimos 8 anos.

Como o mercado financeiro é constantemente observado, ninguém se surpreende com suas variações típicas. No mercado imobiliário, somente quando os preços atingiram níveis estratosféricos, despertou a atenção nacional. Com a economia aquecida, dentre os setores industriais, foi a construção civil que apresentou a maior expansão no emprego. O que preocupa é o aumento de especulação no setor. Ou seja, comprar imóveis para revendê-los com um bom acréscimo no preço e lucrar com a diferença. Para analistas, isso ocorre em alguns lugares restritos de São Paulo e Rio de Janeiro. "Na verdade, são microrregiões afetadas pela ação predatória de especuladores". Na capital paulista, dos cerca de 30 mil novos imóveis vendidos por ano, existem de quinhentas a mil unidades compradas por especuladores.

O governo Lula enxergou no projeto "Minha Casa, Minha Vida" a realização do principal sonho de muitos brasileiros: a casa própria. Para isso, derramou crédito para a população das classes intermediárias, principalmente, financiado pelas cadernetas de poupança e pelo FGTS. Sem dúvida o projeto foi o principal motor do crescimento do ramo. Entretanto, um desenvolvimento sustentável parece ficar distante. Já no primeiro trimestre deste ano, o setor começou a dar indícios de desaquecimento, pressionado por preços altos, pela desaceleração da demanda e pela paralisação da segunda fase do projeto habitacional do governo.

Para consultores, as ações de construtoras na Bolsa vêm caindo consideravelmente. "Não é hora de comprar imóvel nem ação das empresas. O momento é muito delicado", diz o analista. "Os preços, tanto de imóveis quanto de ações, perderam o contato com a realidade. Talvez não seja um bom investimento hoje. A tendência é de estabilização ou mesmo de queda".


O exemplo da crise de 2008


O exemplo americano recente demonstra como um afrouxamento na regulação, culminando com empréstimos em larga escala, ajudou na escalada da bolha. Em um esforço para evitar conseqüências ainda piores, o FED cortou a taxa básica de juros para apenas 1% (em 2003). Essa acentuada queda nos juros particularmente encorajou os americanos a pegarem empréstimos visando financiar a compra de imóveis. Razão: o declínio no valor mensal das hipotecas. Definitivamente, era um bom negócio. Enquanto esses investimentos eram jogados no mercado imobiliário, os preços das casas subiam e a maioria das pessoas parecia estar prosperando. Foi nesse período de juros baixíssimos que a bolha mais se expandiu.

Entretanto, já no início de 2004, o banco central americano, por medo da inflação, começou a aumentar gradualmente a taxa básica de juros, o que estancou a expansão do crédito. Com isso, a demanda por imóveis inevitavelmente teve de cair. Essa queda na demanda e nos preços dos imóveis mostrou uma massa de divida hipotecária literalmente impagável. Revelou uma enorme quantidade de capital desperdiçado, o que triturou a economia norte-americana. Uma enorme depressão só foi evitada ao custo de mais de um trilhão de dólares pelo Fed, algo que inevitavelmente cobrará seu preço no futuro.

Apesar de algumas semelhanças, ao relacionar a bolha da crise americana com a situação brasileira, deve-se ter cuidado. Primeiro um ponto fundamental: a nossa economia não gira em torno apenas do setor imobiliário. Para se ter uma idéia, no mundo, o financiamento imobiliário por parte de grandes bancos, corresponde a taxas bem mais altas do que as vistas por aqui (cerca de 3% do PIB). Deve-se destacar também o nível de intervenção do governo americano tanto no setor bancário como no imobiliário. Mais além, não há sinal de maior liberalização financeira e taxas de juros excessivamente baixas nesse momento (mesmo com a queda da SELIC entre 2003 e 2010). Portanto, tendo um crescimento contínuo na economia, com expansão do PIB entre 4,5% e 5% até 2015, e pelos fatos citados acima, o estouro da "bolha" não seria tão danoso como o que ocorreu em 2008.

Outro ponto fundamental é que, diferentemente dos EUA, no Brasil a maioria dos que compram imóveis é para moradia e não investimento/especulação. A 'fila da casa própria' é gigantesca e só começou a "andar", de fato, na era Lula, após décadas de atraso.

No âmbito internacional, a discussão também esquentou. Um artigo no 'Financial Times' avalia que a economia brasileira caminha rumo a uma bolha, caso o governo não faça reformas estruturais. "Inevitavelmente, essa combinação de moeda forte, euforia dos investidores estrangeiros, aumento do consumo e gargalos que sufocam a capacidade de responder à crescente demanda torna tudo mais caro. Enquanto o Brasil permanece uma nação muito pobre, é atualmente uma das mais caras do mundo", afirma o autor, Moisés Naim. Para ele, a Presidente Dilma precisa tomar medidas para desaquecer a economia, mesmo que isso envolva decisões impopulares. Caso ela não aja hoje, os mercados financeiros farão esses ajustes no momento apropriado, "de uma maneira bem mais brutal".

Por outro lado, durante uma apresentação na ABECIP (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), o economista José Roberto Mendonça de Barros enumerou os fatos que corroboram a hipótese de bolha imobiliária no Brasil. Para ele, o aumento nos preços se deu pelo aquecimento da demanda, empurrada pelo crescimento da renda dos brasileiros. A forte regulação do sistema financeiro do país também seria uma razão para confiar na solidez do cenário econômico. Vale ressaltar que a oferta de imóveis naturalmente demora a alcançar a demanda, uma vez que se trata de bens que levam tempo para serem construídos. Num momento em que a demanda brasileira por imóveis é maior que a oferta, é de se esperar que os preços realmente sejam pressionados.

Concluindo, em geral, há uma espécie de consenso entre os especialistas do mercado de que fatores demográficos e econômicos indicam que estamos fora de uma bolha. O déficit habitacional de seis milhões de unidades, com 95% concentrado nas camadas media e baixas somadas a melhora da renda alimentarão a demanda pro muitos anos. Como foi dito, a especulação imobiliária no Brasil ocorre em regiões isoladas das grandes capitais. Contudo, deve-se atentar para um eventual aumento desse mercado especulativo.

Se cada vez mais, as pessoas acharem que investir em imóveis é um bom negócio, os preços tenderão a aumentar desenfreadamente. E é claro que nenhum setor da economia cresce para sempre. Uma hora os preços chegam ao teto. Olhar com atenção para o mercado imobiliário tem de ser uma obrigação, afinal este foi protagonista de um exemplo recente nada agradável.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Resenha: Reforma Política


Thiago Marino Leão Cardoso


1. Apresentação da Polêmica dos Royalties

Desde o fim da ditadura militar na década de 1980, o Brasil vem se re-acostumando às possibilidades e responsabilidades de um processo mais democrático de governança. Durante este mesmo período, o país passou por um longo e gradual processo de reforma política e institucional com o objetivo primário de restaurar as condições de um Estado democrático-representativo. Contudo, diferente do que a maioria dos brasileiros acredita, tal processo está longe do fim.

Após um razoável período de pausa neste tipo de deliberação (basicamente desde o segundo mandato do presidente Fernando Henrique), a Reforma Política voltou à pauta de discussão em Brasília, mas sem grandes alardes. De fato, importantes alterações nos sistemas político e eleitoral brasileiros vêm sendo debatidas no Congresso e no Senado durante este primeiro semestre sem incluir a população em geral que, em sua maioria, nem ao menos possui conhecimento deste processo.

Em virtude da indiferença apresentada pela mídia em geral, e devido à relevância das alterações propostas, buscar-se-á, aqui, apresentar os principais pontos atualmente discutidos acerca da Reforma Política.


2. Principais alterações propostas

- Fim da reeleição para cargos executivos: visa impedir a possibilidade de reeleição para os cargos de prefeito, governador e presidente da República (atualmente possível e com o limite máximo de uma reeleição). Segundo a mesma proposta, o mandato destes seria estendido para 5 anos e passaria a valer a partir das eleições de 2014 (não impedindo que os atuais representantes executivos se candidatassem nessa).
- Fim da obrigatoriedade do voto: visa acabar com a obrigatoriedade do comparecimento do eleitor às urnas em dia de eleição.
- Gastos de campanha: visa proibir o financiamento de campanha privado, tornando-o estritamente público e previsto no orçamento da União no ano eleitoral em questão. A divisão dos recursos seguiria o seguinte esquema: 1% dividido igualmente por todos os partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 19% divididos igualmente por todos os partidos com representação da Câmara dos Deputados e 80% divididos proporcionalmente entre os partidos levando-se em conta o tamanho de suas bancadas nas últimas eleições.
- Lista Fechada: visa acabar com o voto direto para candidatos a cargos com eleições proporcionais. Desta forma, cada partido elegeria internamente os seus candidatos, formando uma lista segundo a qual os candidatos seriam classificados. Além disso, essa medida coloca a obrigatoriedade da seleção por gênero nas eleições internas (sendo que após um candidato qualquer se deve seguir outro do gênero oposto).
- Fim das Coligações: proíbe coligações para eleições proporcionais, permitindo-as apenas em casos de eleições majoritárias (presidente, governador e prefeito).
- Candidatura Avulsa: permite que candidatos sem filiação partidária concorram a eleições municipais.
- Referendo: visa tornar obrigatória que leis e emendas constitucionais tenham de passar pela aprovação popular via referendos.
- Desempenho: determina que um partido deva manter três deputados de diferentes estados para manter seu direito de funcionamento.


3. Andamento da Reforma


Diferente do que fora pedido pelo presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, em evento da OAB, em março deste ano, ao dizer que "a reforma política é de responsabilidade do Congresso, mas seria desejável que passasse pelo crivo de uma consulta popular. Ou um referendo ou um plebiscito", a Reforma Política vem sendo tratada como um assunto interno ao Legislativo brasileiro.

O motivo desta posição do Legislativo (evitando-se qualquer juízo de valor acerca dos políticos envolvidos) refere-se à pressa com a qual o assunto vem sendo tratado. Isto porque, segundo o artigo 16 da Constituição, "qualquer reforma no processo eleitoral deve vigorar um ano antes para valer para as eleições futuras". Com isso, a validade da reforma política já para as eleições de 2012 depende da sua aprovação até setembro de 2011.

No presente momento, a reforma política vem sendo debatida e formulada por duas comissões independentes, uma no Congresso e outra no Senado. No âmbito do Senado, a comissão responsável já concluiu os seus trabalhos e aprovou um total de 11 propostas de alteração constitucional. Ao receber do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) o documento referente às propostas, o presidente do Senado, o senador José Sarney (PMDB), afirmou satisfeito que "em menos de 90 dias conseguimos concluir a votação de assuntos tão complexos" e concluiu que agora "Vamos quebrar esse tabu de que não se faz a reforma política no Brasil". O objetivo do Senado é que estas propostas sejam votadas até o dia 6 de julho.

sábado, 7 de maio de 2011

Boletim de Conjuntura

Boletim de Conjuntura Monetária 2010
Gabriel Miranda Pires
Rodrigo Siqueira Rodriguez
Orientador Marcelo Carcanholo

Crédito

O Saldo Mensal das Operações de Crédito tem, consecutivamente, mantido a trajetória de crescimento. Tanto os Recursos Direcionados quanto os Recursos Livres cresceram ininterruptamente ao longo dos anos 2009 e 2010. Em Janeiro de 2009, os saldos de recursos livres e direcionados foram de, aproximadamente, R$ 871 e de R$ 357 milhões de reais, respectivamente. Confirmando a tendência de crescimento, o saldo de dezembro de 2010 dos recursos livres e direcionados foram de, aproximadamente, R$ 1,115 bilhões e de R$ 589 milhões de reais, respectivamente. O Gráfico 1 demonstra o volume que os recursos livres e direcionados alcançaram. Estes superaram 1,6 bilhões de reais em setembro de 2010 e finalizaram o ano em, aproximadamente, 1,7 bilhões de reais.

Gráfico 1


Se por um lado o saldo mensal das operações com recursos livres e direcionados cresceu ininterruptamente ao longo dos últimos dois anos, por outro, deve- se analisar qual foi sua expansão em relação ao PIB. Conforme indica o Gráfico 2, a partir do início de 2010, houve uma tendência de estabilização da relação Recursos Livres/PIB. Já a relação Recursos Direcionados/PIB cresceu um pouco ao longo do ano de 2010.
O Gráfico 3 expõe as taxas de variação mensal das variáveis apresentadas no último parágrafo. A taxa de variação mensal dos recursos direcionados supera a taxa de variação mensal do PIB a partir de maio de 2010, o que explica o aumenta da relação Recursos Direcionados/PIB exposta no gráfico 2. Em relação aos recursos livres, sua taxa de variação mensal foi próxima à taxa de variação mensal do PIB, a partir de maio de 2010, o que explica a estabilização da relação recursos livre/ PIB.

Gráfico 2


Gráfico 3


Os recursos livres e direcionados se subdividem conforme apresenta o gráfico 4. Podemos perceber, ao observá-lo, quais as variáveis que mais cresceram no período. Os destaques são os recursos livres para pessoa jurídica e física, bem como os recursos direcionados pelo BNDES. O saldo mensal de recursos livres para pessoa física passou de R$ 399 milhões, em janeiro de 2009, para R$ 559 milhões em dezembro de 2010. O saldo mensal das operações de crédito para pessoa jurídica passou de R$ 472 milhões, em janeiro de 2009, para R$ 555 milhões em dezembro de 2010. Já os recursos direcionados pelo BNDES passaram de R$ 209 milhões, em janeiro de 2009, para R$ 357 milhões em Dezembro de 2010.

Gráfico 4


Ao observar qual a participação de cada um dos componentes dos recursos direcionados em relação ao seu total, percebe-se que a participação do BNDES não se altera significativamente, segundo o Gráfico 5. Mesmo com o crescimento significativo dos recursos direcionados pelo BNDES, a participação em relação ao total de recursos direcionados continua próxima a 60%. Portanto, outro componente dos recursos direcionados também foi ampliado significativamente. Ao observar o gráfico, conclui-se que este foi o recurso direcionado para habitação que, juntamente com o BNDES, expandiu consideravelmente.

Gráfico 5


Ao observar os gráficos 6 e 7, percebe-se a rigidez do spread tanto de pessoa física quanto de jurídica. O spread de pessoa jurídica mantém trajetória de queda, mas esta ainda é pequena. Já o spread para pessoa física, embora tenha caído nos primeiros meses, não se alterou significativamente nos últimos meses do ano de 2010.

Gráfico 6


Gráfico 7



Política Monetária

O primeiro semestre de 2010 foi marcado por uma tendência inflacionária e pelo aquecimento da economia. Tal fato repercutiu na decisão do COPOM ao determinar qual seria o aumento da taxa básica de juros da economia. Mesmo com o aumento do nível de atividade e na identificação de uma tendência inflacionária, foi decidido manter a selic em 8,75% nas primeiras reuniões do ano. Os membros do COPOM optaram por aguardar e observar a tendência inflacionária para decidir se realmente seria necessário elevar a taxa de juros.
Devido a pressão inflacionária, o COPOM optou por elevar a taxa básica de juros para 9,5% a.a no segundo trimestre de 2010. A continuidade da pressão inflacionária levou o COPOM a elevar a taxa básica de juros para 10,25% como forma de conter a expansão do nível de preços.
Ao deliberar a respeito da alteração da taxa básica de juros, o COPOM considera a defasagem entre a medida e seus efeitos sobre a atividade econômica. Por esta razão, a taxa básica de juros não foi alterada nos últimos meses do ano de 2010. O Comitê considerou que a elevação, sucessiva, em meados do ano ainda não foi totalmente repassada para a atividade econômica.
A defasagem da política monetária e a incerteza quanto ao cenário externo pesaram na decisão de não elevar a taxa básica de juros. A política estadunidense de ampliação da liquidez e a incerteza quanto ao restabelecimento de algumas economias centrais tornaram o cenário externo incerto para o Banco Central. Apesar de, na última reunião do ano de 2010, o Comitê identificar aceleração da inflação e, em suas projeções, a inflação passaria da meta estabelecida para o ano, preferiram manter a taxa básica de juros em 10,75%. Recorreram a outras medidas para conter a inflação. Medidas estas chamadas de macroprudenciais que envolveram alteração dos depósitos compulsórios e do aumento das reversas de capital para empréstimos a longo prazo.

Tabela 1

Boletim de Conjuntura

Relatório PIB 2010
Thiago Marino Leão
Orientador : Marcelo Dias Carcanholo

O resultado apresentado pelo PIB Brasileiro ao final de 2010 pode, a primeira vista, levar a uma positiva e otimista conclusão para o ano de 2011. Na taxa acumulada em 12 meses, o PIB brasileiro alcançou um crescimento de 7,5% em relação ao ano anterior e, com relação ao mesmo período, um crescimento em torno de 21,5% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF).
Outros indicadores também apresentaram resultados finais bastante positivos em 2010. Entre estes podemos citar a Indústria, com crescimento de 10,1%, e o Consumo das Famílias, com expansão de 7,0%.
Contudo, tais dados devem ser analisados com cautela. Primeiramente, devesse ressaltar a óbvia fraca base comparativa de 2009 onde a economia brasileira recuou 0,6% ao mesmo passo em que a FBKF e a Indústria apresentaram resultados negativos de 10,3% e 6,42%, respectivamente.
Além disso, sinais de desaceleração podem ser encontrados durante o ano de 2010. Em meio a um cenário de forte valorização cambial e ao combate à inflação iniciado pelo Banco Central, a Indústria apresentou desaceleração, e recuo se considerados os dados dessazonalizados, considerável desde o 3º trimestre de 2010 e, durante o mesmo período, a FBKF apresentou crescimento a taxas decrescentes.
Outro motivo de preocupação refere-se à manutenção do descompasso entre exportações e importações. Apesar do resultado bastante positivo das exportações em 2010, 11,5%, este foi mais que compensado pelas importações, 36,2%.


Análise da Variação dos Principais componentes do PIB em 2010

Durante o ano de 2010 o PIB brasileiro manteve a tendência de recuperação iniciada no 2º trimestre de 2009. Contudo, a análise trimestral revela que o dinamismo inicial não pode ser mantido.
Apesar do positivo o acumulado dos últimos 12 meses, onde a PIB apresentou um bom resultado positivo de 7,5%, o ímpeto com o qual tal resultado foi obtido começou a desacelerar já no 2º trimestre de 2010, onde cresceu 1,6%, e despencou no último semestre do ano, quando a variação trimestral caiu para 0,4% e 0,75%. Tal que da pode ser, inclusive, observada na variação da taxa acumulada através da estabilização do PIB entre o 3º e o 4º trimestres.

Gráfico 1


Gráfico 2



Apesar do resultado bastante superior ao que se previa no início do ano pelo FMI e outras organizações, as quais indicavam um possível de 5,5% para o Brasil em 2010, os últimos desempenhos do PIB são motivo de preocupação.
Passemos, então, para a análise dos componentes do PIB na tentativa de determinar possíveis causas para tal perda de ritmo e de expectativas quanto ao ano de 2011.

Análise do PIB: Ótica da Oferta

A análise da taxa acumulada dessazonalisada dos componentes de oferta do PIB em 2010 apresenta resultados otimistas. O melhor resultado fica por conta da Indústria que apresentou crescimento de 10,1% no ano, enquanto o Setor Agropecuário apresentou crescimento anual de 6,0% e o Setor de Serviços cresceu 5,4%.
No Setor de Serviços os destaques foram o Comércio e os serviços de Intermediação Financeira, os quais apresentaram uma taxa acumulada de 10,85% e 10,70%, respectivamente.
No Setor Industrial a Indústria Extrativa Mineral teve um alto desempenho global de 15,6% e a Construção Civil apresentou uma taxa acumulada de 11,75%. No mesmo período a Indústria de Transformação apresentou crescimento de 9,7%. Vale ressaltar que, no ano de 2009, a Indústria de Transformação havia apresentado o pior resultado anual, retraindo 8,22%.

Gráfico 3


Contudo, como indicado anteriormente, a análise das variações trimestrais não nos apresenta um cenário tão positivo quanto à variação anual. Com base nesta veremos que o Setor Agropecuário apresentou recuos de 1,57% e 0,79% (ajustada a sazonalidade) nos últimos trimestres de 2010.
Da mesma forma o Setor Industrial também apresentou recuos de 0,56% e 0,31% no segundo semestre. Isto refletiu uma leve desaceleração do subsetor Extrativo Mineral e, principalmente, os resultados negativos da Indústria de Transformação, a qual recuou 1,59% e 0,43% no segundo semestre.
Apesar de não ter apresentado recuos o Setor de Serviços também apresentou leve desaceleração no último semestre de 2010.

Gráfico 4


Gráfico 5


Podemos, então, perceber que apesar do bom resultado no ano, tanto a Indústria, e, neste caso, principalmente a de Transformação, quanto a Agricultura apresentaram sinais de desaceleração na segunda metade do ano de 2010.

Análise do PIB: Ótica da Demanda

Da mesma forma como ocorreu entre os componentes de Oferta do PIB, a análise da taxa acumulada pela ótica da Demanda apresenta resultados bastante positivos. Podemos observar um forte crescimento tanto do Consumo das Famílias quanto, principalmente, da FBKF (7,04% e 21,98%, respectivamente). Contudo, aqui também não devem ser tiradas conclusões precipitadas.
Devemos, em primeiro lugar, voltar a ressaltar a fraca base comparativa. Em 2009, a FBKF havia apresentado forte queda de 10,34% em sua taxa acumulada. Deve ser ressaltado, também, que a FBKF, assim como vimos nos dados de Oferta, apresentou taxas de variação decrescentes durante o ano de 2010.
Os Gastos do Governo apresentaram crescimento modesto durante o ano e encerraram 2010 com um crescimento acumulado de 3,32%. Vale observar que este índice também apresentou resultados decrescentes e, inclusive, negativos durante o segundo semestre de 2010.
Já a balança comercial continuou sendo um forte motivo de preocupação e desequilíbrio durante o ano de 2010. Apesar do bom resultado apresentado pela taxa de crescimento acumulada das Exportações (11,53%), este foi mais que compensado pelo das Importações que apresentou uma taxa acumulada de 36,19%.
Uma possível boa perspectiva para a balança comercial, entretanto, vem da análise trimestral. Apesar das oscilações, as Exportações apresentaram uma estável tendência de crescimento em 2010 enquanto as Importações cresceram a taxas decrescentes. Além disso, a taxa de variação trimestral no último trimestre de 2010 foi quase igual entre estes dois indicadores, com ligeira vantagem para as Importações (3,63% e 3,92%).

Gráfico 6


Gráfico 7


Da mesma forma como nos componentes de Oferta, podemos aqui observar uma combinação de bons índices anuais e taxas decrescentes de crescimento no que se refere à FBKF, o que serve de alerta para o ano de 2011. Tais resultados são, possivelmente, causados pela fraca base comparativa de 2009 e por medidas de combate à inflação adotadas no período.
O comércio externo também continua, como nas avaliações anteriores, a representar um desafio para a economia brasileira. Apesar da redução da taxa de crescimento das Importações ao longo do ano, possivelmente em resposta à redução da FBKF durante o mesmo, esta continua consideravelmente alta em relação às Exportações, na análise anual, e ainda apresenta um crescimento superior.


Análise da Composição do PIB

Composição do PIB: Ótica da Oferta

Comparando a participação média dos componentes de Oferta do PIB veremos que a Indústria apresentou crescimento relativo frente à Agricultura e aos Serviços. Contudo, o Setor Industrial ainda não retornou ao seu grau de participação de 2008.
Durante o ano de 2010 a Indústria respondeu por 26,79% do PIB, chegando ao seu máximo no 3º trimestre quando representou 27,94%, valor superior à média de 2008 e mais alto desde o 3º trimestre deste mesmo ano. O Setor Agropecuário recuou para 5,80% do PIB, valor inferior à média de 2008 (5,94%). Já o Setor de Serviços respondeu por 67,42% do PIB, recuando 1,11 pontos percentuais em relação à 2009, mas ainda superior à média de 2008.

Gráfico 8


Composição do PIB: Ótica da Demanda

Analisando a variação anual média dos componentes de Demanda do PIB veremos que o Consumo das Famílias continua respondendo por mais da metade do PIB (60,66%) e, apesar de ter sofrido uma pequena queda em relação à média de 2009, manteve-se acima da média de 2008. Contudo, vale ressaltar que sua participação média teve uma tendência de queda ao longo do ano (representando 63,17% no 1º trimestre e 59,15% no 4º).
Os Gastos do Governo apresentaram similar comportamento em relação às médias anuais e respondeu por 21,08%. Mas, ao contrário da tendência de queda apresentada pelo Consumo das Famílias, este apresentou participação crescente ao longo do ano (partindo de 19,95% no 1º trimestre e encerrando o ano em 24,56% do PIB).
Os Investimentos (FBKF mais as Variações de Estoque) responderam por 19,27% do PIB e ampliaram sua participação em relação à 2009, mas permaneceram abaixo da média de 2008 (20,70%). Na análise individual da FBKF, veremos que esta respondeu por 18,44% do PIB 2010 (contra 19,09% de 2008) e que na passagem do 3º para o 4º trimestre deste ano sua participação caiu de 19,43% para 17,95%.
Já a Balança Comercial ampliou seu resultado negativo em relação ao de 2009. Este saldo representou um valor negativo de 1,01% do PIB (uma redução de 0,97 pontos percentuais em relação à média de 2009). Na análise individual veremos que as Exportações reduziram minimamente sua participação relativa no PIB em relação à 2009 em 0,06 pontos percentuais e responderam por 11,12% em 2010. Já as Importações ampliaram a sua participação em 0,91 pontos percentuais e se igualaram a 12,14% do PIB em 2010.

Gráfico 9


Gráfico 10


Conclusões

Se analisarmos o ano de 2010 pelo crescimento em relação a 2009, poderemos concluir que 2010 foi um ano de grande crescimento para a economia brasileira. Com crescimento de 7,5% no PIB, 10,10% da Indústria e 21,98% na FBKF o Brasil demonstrou ser capaz de sair da crise e apresentar indicadores ainda melhores do que os esperados. Quanto a isto, entretanto, devemos nos lembrar que o ano de 2009 representa fraca base comparativa e “auxiliou” tais resultados tão expressivos.
Contudo, o ritmo de crescimento brasileiro parece estar dando sinais de esgotamento já no 3º trimestre de 2010 e sem perspectivas de melhora para 2011. O Setor Industrial e a FBKF desaceleraram e, no caso da indústria, até observou-se recuo.
No setor externo do PIB a situação também não parece favorável. Apesar de ter apresentado taxas de crescimento decrescentes (em parte devido à queda na taxa de FBKF) as Importações apresentaram crescimento sempre superior às Exportações e ampliaram o diferencial entre os dois.
Como agravante para as expectativas em relação ao ano de 2011 devem ser incluídas as expectativas de manutenção da valorização do real frente ao dólar e a adoção de medidas, tanto pelo governo quanto pelo Banco Central, para combater a possibilidade de inflação como fatores que colaborarão para a continuação da perda de dinamismo da economia brasileira.
Mantidas as tendências de 2010 e as expectativas quanto às políticas econômicas do governo brasileiro torna-se muito provável a ocorrência de fracos resultados para a economia brasileira no ano de 2011, em oposição ao alto crescimento de 2010, e uma não melhora na balança comercial.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Boletim de Conjuntura

Análise de Conjuntura do Mercado de Trabalho
Igor Laltuf Marques
Orientadora: Lérida Povoleri


Introdução

Em 2009, as principais economias do mundo sentiram os efeitos da crise internacional que teve início nos Estados Unidos. Seis meses após a quebra do banco Lehman Brothers já era possível ver claramente o estrago que a crise havia feito nos mercados de trabalho pelo mundo.
A Espanha foi provavelmente um dos países que teve seu mercado de trabalho dentre os mais atingidos. De setembro de 2008 a março de 2009 o desemprego no país subiu de 12,3% para 17,3%. Até mesmo a França que não faz parte dos PIIGS³ sofreu um aumento de 1,4% na sua taxa de desemprego. O Estados Unidos, país epicentro da crise, teve um aumento de 2,4% nos seis meses subseqüentes a crise.
No Brasil, o efeito não foi uma “marolinha” como divulgado pelo governo brasileiro no final de 2008. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um aumento de 7,6% para 9% no semestre seguinte a crise.

Gráfico 1



A previsão da Organização Internacional do Trabalho (OTI), é de que os países ricos só verão o nível de emprego voltar ao patamar pré-crise em 2015. Segundo a organização, a preocupação dos governos desses países com o elevado endividamento público os levou a remover incentivos fiscais antes do previsto, provocando danos ao mercado de trabalho. Já os países emergentes e em desenvolvimento devem retornar ao nível de emprego pré-crise já em 2010 (ILO, 2010).

A RESPOSTA DO GOVERNO BRASILEIRO À CRISE E A QUEDA NA TAXA DE DESEMPREGO

Ainda em 2009, em uma tentativa de fortalecer o mercado interno, o governo brasileiro começou a adotar medidas anticíclicas.

Para aumentar a demanda, o governo ampliou a desoneração fiscal e os programas de transferência de renda como o bolsa família. Essas ações combinadas ao aumento do nível de produção pelos empresários resultaram em um aumento da demanda. Os contínuos investimentos públicos dados pelo governo também impediram que a demanda diminuísse (GENTIL, 2010).
Além dos citados anteriormente, outro fator foi importante para a recuperação do nível de emprego no Brasil nesse período pós-crise: a ampliação do crédito. Esta foi realizada principalmente pelos bancos públicos brasileiros.
Esses fatores, conseqüentemente, auxiliaram o aumento do nível de emprego durante o ano pós-crise a se recuperar da queda inicial. Em outubro de 2009 a taxa de desemprego brasileiro já marcava 7,5%, ou seja, no mesmo nível que se encontrava antes da crise.

O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO EM 2010

O primeiro trimestre de 2010 no mercado de trabalho brasileiro foi marcado pelo grande aumento do número de empregos formais. Somente até o fim do mês de março obteve-se um saldo de 657.259 postos de emprego. Esse aumento do saldo de empregos* foi impulsionado por três setores: a indústria de transformação, a indústria de construção civil e o setor de serviços (Tabela 1).

*Saldo de empregos é a diferença entre empregados admitidos e demitidos
A área de construção civil só no primeiro trimestre de 2010 teve um saldo de 127.694 empregos. Esse valor representa 72,06% do saldo desse setor em todo o ano de 2009, que foi de aproximadamente 177 mil empregos. Os programas habitacionais, a expansão do crédito imobiliário, saneamento e as obras para os eventos esportivos de 2014 e 2016 permitiram essa expansão do setor (Tabela 1).
O setor de serviços se destaca por ser o que mais gerou empregos em 2010. Gerou um total de 1.018.052 empregos. Em segundo lugar ficou o comércio com cerca de 610 mil empregos. Em terceiro a indústria de transformação com 544.367 empregos.

Gráfico 2


O mês de dezembro geralmente apresenta um saldo negativo devido a efeitos sazonais entressafra agrícola, fim do ciclo escolar e encerramento de contratos de trabalho temporários. Mesmo assim o saldo negativo foi superior ao esperado já que nos anos anteriores, com exceção de 2008, ficou próximo de 300 mil empregos.
O único setor que não apresentou saldo negativo em dezembro foi o comércio, o que normalmente é registrado nesse período devido a contratações temporárias de fim de ano.

Tabela 1


Gráfico 3


Em 2010, a taxa de desemprego média nas seis principais regiões metropolitanas do país, também conhecida como taxa de desemprego, alcançou a marca de 5,3% em dezembro de 2010 após bater sucessivos recordes.
Apesar de subir para 6,1% em janeiro de 2010 a marca continua baixa. Esse aumento em janeiro já era esperado tendo em vista o fim dos contratos temporários efetuados em novembro e dezembro no setor de comércio.
Essa queda gradual do desemprego em 2010 ainda é reflexo da política anticíclica adotada pelo governo brasileiro após a crise internacional (GENTIL, 2010).

Gráfico 4


INFLAÇÃO X SALÁRIO MÍNIMO

O salário mínimo nominal brasileiro passou de 465 reais para 510 reais em janeiro de 2010. Já o salário mínimo real, que é o salário mínimo nominal com a inflação calculada pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) descontada, começou o ano em R$ 543,30 e fechou dezembro com R$ 514,79.
Em janeiro de 2011 o salário mínimo subiu para 540 reais. Mas após sair a divulgação do índice oficial de inflação do mês de dezembro, que veio acima do esperado, o governo decidiu aumentar para 545 reais o salário mínimo em março.


Gráfico 5


Mesmo com a inflação em alta em 2010, o salário mínimo real ainda se mantém em ritmo crescente se comparado ao mesmo período de anos anteriores. Ele marcou no mês de dezembro R$ 464,33 em 2008, R$ 499,72 em 2009 e R$ 514,79 em 2010.
Em 2010, a inflação calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano com uma taxa acumulada de 5,91%, a maior taxa desde 2004 quando foi registrado um aumento de 7,6% no ano (vide Boletim de Monetária).
Os principais responsáveis pelo aumento do IPCA em 2010 foram os alimentos, que subiram 10,39%. Já os produtos não alimentícios causaram menor impacto no salário mínimo nominal (4,61%).
Em 2010, o aumento nos investimentos nos mercado de contratos futuros de commodities pressionou a inflação e com isso a queda do salário mínimo nominal.
O aumento das commodities devido à especulação no mercado financeiro acontece devido a dois fatores: a alta liquidez mundial no cenário pós-crise e a falta de aplicações rentáveis para investir nos Estados Unidos e na Europa, entre outros.
Outro fator que também agrava essa intensificação na especulação das commodities é a falta de regulação no mercado. O presidente da França Nicolas Sarkozy já fala sobre a necessidade da regulação desse mercado. Só entre 2009 e 2010 US$ 131 bilhões saíram de fundos e investidores para contratos de commodities (PRATES, 2011).

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Não há dúvidas que a atuação do governo brasileiro foi imprescindível para a estabilidade do mercado de trabalho nacional. Com base nos indicadores atuais, é possível afirmar que o mercado de trabalho brasileiro se recuperou mais rápido do que previam os cenários mais otimistas no período pós-crise em 2008.
A taxa de desemprego marcando 5,3% e o salário mínimo que não perdeu seu poder de compra mesmo em um ano de inflação elevada comprovam o otimismo do atual cenário econômico no mercado de trabalho brasileiro.
Esse período de otimismo vem acompanhado do crescimento de 7,5% no PIB de 2010. Os responsáveis por esse crescimento na produção são principalmente investimentos ligados ao pré-sal e na área de construção civil.
Externamente o cenário é bastante diferente. A economia americana ainda se encontra em fase de recuperação da crise e elevado desemprego. A Europa tenta se recuperar e realizar alguns ajustes no que diz respeito às políticas da União Européia após as recentes crises da Grécia e da Irlanda. China e Índia se recuperaram mais rápido e mantém o alto crescimento. (BUAINAIN, 2010)
Para 2011 as perspectivas continuam positivas, mas dificilmente o desemprego cairá tão intensamente quanto em 2010. Essa queda moderada do desemprego em 2011 deve-se a previsão do crescimento brasileiro de apenas 5% em 2011 e a política fiscal restritiva do governo. (MANTEGA, 2011).

BIBLIOGRAFIA:

BUAINAIN, A. M.; Cenários Pós Eleição. Palestra realizada pela Escola Nacional de Seguros. Rio de Janeiro – RJ, em 23 de setembro de 2010.

GENTIL, D. L.; Victor Leonardo de Araújo . Avanços, recuos, acertos e erros: uma resposta da política econômica brasileira à crise econômica internacional. 2010. (Apresentação de Trabalho/Seminário).
INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION (ILO), World of Work Report 2010 - ILO says long "labour market recession" worsens social outlook in many countries. Disponível em: . Acesso em 28 de março de 2011.
MANTEGA, G.; Mantega considera bom crescimento entre 4,5 e 5% em 2011. Ministério da Fazenda, disponível em: . Acesso em 22 de março de 2011.
PRATES, D. M. . A alta recente dos preços das commodities. Revista de Economia Política, v. 27, p. 323-344, 2011.

Boletim de Conjuntura

Setor Externo

Luma Souza Ramos
Orientador: Paulo Henrique Araujo


O ano de 2010 foi muito peculiar para a economia brasileira e para o setor externo. Isso porque ao longo do ano foi observado o mesmo movimento especulativo que existia no período pré-crise subprime. Ou seja, uma grande entrada de capitais de curto prazo atraídos pela nossa alta taxa de juros. O que refletiu uma forte valorização do real frente às moedas estrangeiras e em especial, ao dólar.
Observou-se, também, no período o aumento dos déficits em transações correntes e, principalmente, a queda dos superávits na balança comercial. Até novembro de 2010 o saldo na balança comercial era de US$312 milhões, uma variação negativa de aproximadamente 50% comparada ao ano passado. Isso motivado basicamente pelos bens importados estarem mais baratos do que a produção interna.
Outro assunto polêmico no cenário mundial este ano foi a crise na região do Euro. Países como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha sofreram com o forte desemprego e a falta de investimentos na região. E dado o fato da Alemanha não ter condições de segurar todos os países, um clima de instabilidade se instaurou nesses países. Uma vez que, a política monetária da União Européia está diretamente ligada aos interesses alemães, e esses não se sujeitaram a sofrer uma deflação em prol da ajuda aos países mais periféricos da região. E a única saída encontrada por esses países foi promover um forte corte nos gastos, reduzindo o número de funcionários públicos, seus salários e os benefícios sociais. Aliado a isso, a Irlanda e a Grécia tiveram de pedir ajuda junto ao FMI e à União Européia e aumentaram a taxa de juros interna superando a marca ‘psicológica’ dos 7% para tentarem se recuperar. No ano, a Espanha e Grécia terminaram com uma variação negativa do PIB no valor de 0,1% e 4,5%, respectivamente. A Irlanda, segundo previsões das agências econômicas irlandesas, deve apresentar um déficit público anual de 32% do PIB, um aumento significativo, tendo em vista que em dezembro de 2009 esse montante era de apenas 11,6%.
Outro destaque, como já citado anteriormente, foi a guerra cambial que se instaurou nos países asiáticos, para assim ampliar a competitividade dos seus bens e produtos. A estratégia utilizada pela China de segurar o Yuan desvalorizado foi fortemente atacada pelos Estados Unidos que ao longo do ano pressionou para a flutuação desta. O embate se deu uma vez que o câmbio chinês se encontra desalinhado, extremamente desvalorizado, tornando assim os produtos americanos e basicamente de todo o mundo mais caros aos da China. O que tornou as exportações mundiais mais debilitadas e levou a gigantes superávits comerciais chineses aumentando apenas suas reservas internacionais. O clima de protecionismo chegou ao ponto de na última Conferência do G20, em novembro na Coréia do Sul ter havido uma discussão sobre os rumos que a política monetária internacional deveria levar não se tendo chegado a nenhum acordo. Para o governo brasileiro, era fundamental adotar ações coletivas de combate à manipulação cambial levando o ministro da Fazenda, Guido Mantega a sugerir uma cesta de moedas, como ordem monetária mundial. O que não teve grandes repercussões.
Em 2010, a economia americana sofreu com o desemprego, no mês de novembro a taxa atingiu o maior valor desde abril, um total de 9,8%, o que representa 15,1 milhões de pessoas desempregadas. Nos três meses anteriores a taxa registrada foi de 9,6%. Apenas 39 mil empregos foram criados em novembro, abaixo da expectativa de analistas. Em outubro de 2010, por exemplo, foram criadas 172 mil vagas.
Foram gerados empregos no setor de serviços empresariais, saúde e mineração, e o número de vagas no varejo e na indústria caiu. Ademais disso, o fraco mercado imobiliário apresentou uma situação de pessimismo e incertezas nessa economia. Mas os economistas esperam uma reversão dessa situação no próximo ano, como uma queda do desemprego.
O PIB americano em 2010 fechou com um crescimento anualizado de 2,8%, em aproximadamente 14 trilhões de dólares. O consumo foi o principal componente agregado estadunidense com uma variação positiva de 4,1% e os gastos públicos apresentaram uma queda de 2,4%.
O PIB brasileiro no ano teve um crescimento de 7,5% o maior crescimento desde 1986 quando também foi registrada essa variação. Tal valor foi superior a média mundial anual que foi de 5% e às taxas atingidas pela União Européia, com 1,7%, EUA, com 2,8%. Contudo ficou abaixo da China, com 10,3% e Índia, com 8,6%.
-Balança Comercial
Como já apontado na introdução a balança comercial apresentou um aumento expressivo das importações ao longo desse ano, fortemente influenciado pelo cambio valorizado. No mês de novembro, a balança comercial teve um superávit de US$312 milhões, 50% a menos do que o mesmo mês no ano passado. Em comparação com outubro desse mesmo ano a queda foi de 83%. Tendo como forte precursor o aumento das importações, que no mês de novembro fechou em US$17,376 bilhões, contra US$17,688 bilhões das exportações. No último mês do ano a balança comercial fechou com um saldo de US$ 5.367 milhões tendo as exportações com um valor de US$ 20.918 milhões e as importações US$15.551milhões. No ano de 2010 houve um superávit de US$ 20,3 bilhões nessa conta, com um total de US$ 201,9 bilhões das exportações e US$ 181,6 bilhões das importações. As exportações encerraram o ano com crescimento de 32,0%, enquanto as importações tiveram aumento de 42,3%.



Gráfico 1




No gráfico a seguir poderemos analisar o debate atual da economia brasileira, se há a reprimarização da pauta de exportação ou não. O que se observa é uma tendência que começa a partir de 2009 de crescimento dos valores das importações, ou seja, está ocorrendo um vazamento maior de renda. Tendo relevância o aumento da importação dos bens de capital. Isso é fruto do crescimento da renda nacional desde a crise de 2008/2009 e a forte entrada de capital especulativo que gera uma valorização ilusória do real.
Tal fenômeno acaba prejudicando a competitividade dos produtos nacionais no mercado externo e interno, pois os produtos importados estão cada vez mais baratos. O que está levando o país a se especializar em bens primários e de baixo valor agregado. Nos últimos meses do ano as exportações apresentaram um grande avanço, merecendo destaque o setor de produtos básicos. Isso é preocupante, visto que o país terá que ampliar suas vendas para pagar as suas importações dado que haverá a deterioração dos seus termos de troca. Aliado a isso, o país tem com um contexto histórico - estrutural de déficits nas contas de rendas e serviços, tornando assim o saldo negativo das transações correntes. Dessa maneira, o país para fechar sua conta da Balança de Pagamentos deverá ampliar a entrada de capitais, se sujeitando ao capital externo e altas taxas de juros.



Gráfico 2

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Ipeadata

As exportações ao longo do ano apresentaram um bom desempenho com relação aos seus preços, confirmando assim uma tendência dos últimos meses. De maio de 2009 até outubro de 2010 o índice de preço das exportações totais registrou crescimento de 35,3%. Vale destacar os resultados que os produtos básicos têm apresentado, com aumento de 55,2% na mesma base de comparação. Os produtos semimanufaturados e manufaturados também registraram variação positiva nesse período, de 48,4% e 14,5%, respectivamente.
Com relação ao quantum exportado os resultados também estão sendo positivos, conforme comprova o gráfico abaixo. Ao longo do ano todos os segmentos apresentaram uma melhora, mas a mais significativa foi do setor de bens básicos com um avanço de 7,5% no mês de outubro em relação ao mesmo mês do ano passado. Segundo a FUNCEX (2010), o quantum exportado tem crescido desde setembro de 2008, contudo, ainda acumula queda de 6,9%. Os produtos básicos continuam como a única exceção entre as classes de produtos, registrando taxa de crescimento positiva de 8,8% nessa base de comparação. Os produtos manufaturados e semimanufaturados têm quedas de 19,3% e 4,6%, respectivamente.

Gráfico 3

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Ipeadata

Já as importações vêm apresentando um crescimento liderado pelo quantum, que no mês de outubro teve variação positiva de 24,9% em relação ao mesmo mês de 2009. Os preços tiveram um crescimento de apenas 3,8%. No acumulado do período janeiro-outubro de 2010, comparativamente ao mesmo período de 2009, o quantum registrou variação positiva de 40,3%, enquanto os preços tiveram aumento de 2,4%, conforme dados da FUNCEX.
Entre os setores, todas apresentaram aumento de quantum das importações no mês de outubro, sendo que o desempenho mais expressivo foi o dos bens de capital (32,7%). Em seguida, vieram os bens de consumo não-duráveis (30,8%), os bens intermediários (24,8%), os bens de consumo duráveis (21,8%) e os combustíveis (13,5%). No acumulado dos dez primeiros meses do ano, os maiores destaques foram os bens de consumo duráveis e os bens intermediários, com taxas de crescimento de 51,9% e 43,4%, respectivamente.
Com relação ao ano de 2010, segundo dados da FUNCEX, o aumento do valor exportado deveu-se tanto aos preços quanto ao quantum, cujas variações foram de 20,5% e 9,5%, respectivamente. O aumento das importações em 2010 foi devido ao quantum, que acumulou variação positiva de 37,0% em relação ao ano anterior. Essa variação positiva ocorreu em todos os setores, mas o setor de bens de consumo duráveis teve destaque.
O crescimento dos preços de exportação ocorreu em todos os produtos, sendo maior nos bens básicos, com uma ênfase em minério de ferro e na extração do petróleo. Houve também um aumento do quantum exportado com realce para os básicos que cresceram 11,4%.

-Conta corrente
A conta de serviços fechou o ano com um déficit de US$31, 071 milhões, com as viagens e aluguéis de equipamentos representando 38% do total das despesas. A conta de rendas apresentou um saldo negativo de US$39, 558 milhões, tendo a renda dos investimentos enviados alcançado US$ 40, 057 milhões. Desse total, 22,2% dos lucros e dividendos das multinacionais foram remetidos aos Países Baixos, 17% às matrizes americanas e 12,1% à Espanha. Sendo que 60,6% é fruto do setor secundário, principalmente nas indústrias de veículos automotores e bebidas.

-Conta de capital e financeira
A conta de capital e financeira apresentou um intenso fluxo de capitais especulativos ao longo do ano. Esses têm como principal característica serem de curto prazo, ou seja, não transbordam para o setor produtivo e apenas aproveitam a expectativa de valorização cambial futura e o diferencial de juros que os beneficia. Isso porque para incentivar os investimentos e impulsionar a demanda interna, os países desenvolvidos estão apresentando uma baixa taxa de juros real , estando hoje, entre 0,5% e 1%, ou então em alguns casos, negativas. O que está atraindo cada vez mais dólares para cá.
Não obstante isso, o Brasil recebeu ano passado o total de US$ 48,4 bilhões em investimento estrangeiro direto, o que representa 4,31% dos fluxos globais de dinheiro aplicado em atividades produtivas, segundo dados da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e do Banco Central brasileiro. Colocando o país na ‘’rota do dinheiro’’ como apontado por alguns economistas. Tal resultado mostra como o país vem crescendo no cenário mundial. No ano de 2006 detinha 1,3% desse fluxo e se comparado ao ano passado, 2009, houve uma alta de 86,8% frente aos US$ 25,9 bilhões atraídos naquele ano. Este valor supera os aportes recebidos por Rússia, México, Índia e Reino Unido e ainda significou o recorde de recebimentos. Além disso, o país recebeu o saldo de US$67.794 milhões em investimentos estrangeiros de carteira durante o ano.
As reservas internacionais brasileiras fecharam o ano no valor de US$288,6 bilhões com previsões de contínuos acréscimos ao longo do ano de 2011.

-Taxa de câmbio
Contudo tal movimento aliado à elevação dos depósitos compulsórios (o que retirou do mercado cerca de R$ 61 bilhões) tem se tornado traiçoeiro no momento em que o real se valoriza no contexto mundial e as reservas internacionais se ampliam. No gráfico 4 poderemos ter um maior entendimento dessa situação.
E para frear a forte entrada de capital foi aumentado o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), primeiramente para 4% e depois, 6%. O que não surtiu muito efeito na economia, dado que em novembro a entrada de recursos foi de US$2,2bilhões.



Gráfico 4


A média da taxa de cambio comercial no mês de dezembro foi de R$1,66 um valor que representa uma valorização do real de quase 2% comparado com o mês de novembro. Com relação ao mesmo mês do ano passado, o real apresentou uma valorização de 4,3%, quando a moeda nacional era negociada no mercado externo a uma cotação de R$1,74.
Conclui-se então, que o valor do real se encontra em uma dinâmica de valorização dentro do cenário internacional, dado as elevadas taxas de juros internas e ao ritmo de crescimento econômico brasileiro. Contudo essa tendência é preocupante para a economia nacional, pois, dentre outros fatores, prejudica as suas exportações e a produção interna . E o país pode estar perdendo espaço dentro do comércio mundial. Além disso, não existem evidências de que no ano 2011 essa tendência seja revertida, as intervenções do Banco Central no mercado de câmbio aparentam serem as únicas medidas utilizadas pelo governo para frear a valorização do real.