sábado, 15 de maio de 2010

Boletim de Conjuntura

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DO PIB EM 2009

Thiago Marino Leão Cardoso
Orientador: Marcelo Dias Carcanholo

Apesar das perspectivas otimistas apresentadas ao início do ano de 2009, pelo Ministério da Fazenda (1,5%), Banco Central (1,2%), IPEA (1,2%), Febraban (2,56%) e pelo Relatório Focus (2,4%), com relação à superação da crise mundial por parte da economia brasileira, foi verificada razoável estabilidade do PIB brasileiro acumulado de 2009 em relação a 2008.
Procuraremos, a seguir, analisar diferentes fatores que contribuíram para tais resultados e ressaltar possíveis panoramas futuros com base nas contas nacionais de 2009.
Após dois trimestres seguidos de recuo em relação aos trimestres anteriores, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro manteve uma dinâmica de recuperação acelerada a partir do 2º trimestre de 2009. Tal crescimento, contudo, não foi suficiente para permitir que o país encerrasse o ano com um resultado positivo e, muito menos, que alcançasse às estimativas otimistas apresentadas por diversas analises (como do Ministério da Fazenda, de alguns analistas de mercado e outros) no início de 2009.
O recuo de 0,2% do PIB em 2009 demonstra que o país não foi capaz, como se imaginava, de se destacar entre as demais economias mundiais no momento pós-crise, ficando apenas 0,4% acima da taxa média de crescimento do PIB mundial enquanto economias como Argentina e Austrália conseguiram resultados positivos, crescendo, respectivamente, 0,9% e 1,3% em 2009.
Contudo, a seqüência de bons desempenhos nos últimos trimestres, particularmente a partir do 2º, permite a projeção de melhores resultados para a economia brasileira, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) que indicam crescimento entre 4% e 5,5% para o Brasil nos próximos anos.


Gráfico 1



Gráfico 2


Uma vez mantido o presente ritmo de recuperação, tanto brasileiro quanto mundial, é possível que o Brasil apresente um razoável crescimento no ano de 2010 e mesmo a retomada das taxas de crescimento pré-crise, como parece afirmar as previsões do FMI ao indicar uma taxa de crescimento do PIB brasileiro no valor de 5,5% em 2010. Contudo, deve-se ressaltar que tal perspectiva depende tanto de fatores exógenos quanto de outras variáveis que serão analisadas posteriormente nesta seção.

Análise do PIB: Ótica da Oferta
A análise da taxa acumulada dos componentes de oferta do PIB de 2009 não apresenta muitos resultados positivos. Enquanto o Setor de Serviços apresentou uma expansão de 2,6% no acumulado (dessazonalizado) do ano, tanto o Setor Agropecuário quanto a Indústria apresentaram recuos de 5,13% e 5,51%, respectivamente.
Tal recuo apresentado pela Indústria deve-se, principalmente, aos resultados do sub-setor de transformação (-7,27%) e da construção civil (-6,31%) no agregado anual. Contudo, devemos ressaltar que ambos os sub-setores apresentaram melhoras em relação aos trimestres anteriores a partir do 2º trimestre de 2009 e que, desde então, vêm apresentando uma dinâmica de crescimento.
Já o desempenho dos Serviços reflete o bom desempenho anual dos sub-setores de serviços de informação e financeiros que superaram o mau desempenho do comércio e do transporte e armazenamento. O Setor Agropecuário, contudo, apresentou variação negativa entre todos os trimestres do ano.

Gráfico 3


Gráfico 4


Gráfico 5


Gráfico 6


Assim, podemos perceber que, com exceção do Setor Agropecuário, todos os setores produtivos vêm apresentando, de forma geral, tendência à retomada do crescimento desde o 2º trimestre de 2009, influenciando o PIB de maneira geral e sendo, desta forma, responsáveis, também, por sua recuperação.
Podemos então, mantidas as taxas de recuperação do Setor Industrial e, também, as ressalvas com relação à recuperação externa e desconsiderando possíveis problemas internos feitas ao final do item anterior, antever uma recuperação do PIB brasileiro para os próximos trimestres de 2010 através do retorno da atividade industrial.

Análise do PIB: Ótica da Demanda
Ao analisarmos a taxa acumulada dessazonalizada dos componentes de Demanda do PIB no ano de 2009, podemos observar um crescimento razoável do Consumo das Famílias e do Governo (4,06% e 3,67%, respectivamente) em contraposição ao forte recuo da Formação Bruta de Capital Fixo (-9,98%). As Exportações e Importações também apresentaram recuos neste índice (de -10,35% e -11,54%, respectivamente).
Contudo, se analisarmos a variação destes componentes em relação ao trimestre anterior, perceberemos que, assim como o Setor Industrial, a Formação Bruta de Capital Fixo, as Exportações e as Importações vêm apresentando crescimento desde o 2º trimestre de 2009. Mesmo assim, deve-se chamar a atenção para o maior crescimento das Importações em relação às Exportações, o que vêm acarretando déficits na balança comercial e ameaça a recuperação da economia.

Gráfico 7


Gráfico 8


Com base nestes dados, podemos destacar a manutenção do Consumo das Famílias e dos Gastos do Governo como de grande importância para a retomada da atividade econômica brasileira e dos investimentos. E, da mesma forma, podemos destacar o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo como indicador da retomada da atividade econômica e do crescimento, assim como de um possível otimismo quanto ao futuro por parte dos empresários.
Contudo, devemos ressaltar, também, neste cenário de recuperação da atividade produtiva, o rápido crescimento das Importações, acima da Formação Bruta de Capital Fixo e, principalmente, das Exportações, como potencial complicador e fator restritivo a tal processo.
A forte entrada de bens importados, estimulada pela valorização cambial, tende a ameaçar a recuperação do setor produtivo interno uma vez que seu crescimento se dá de forma superior aos investimentos em capital fixo (variável também ameaçada por uma provável elevação na taxa de juros brasileira). Da mesma forma, o déficit em transações correntes pode vir a comprometer as contas externas e tornar a economia brasileira ainda mais vulnerável a oscilações do fluxo internacional de capital.

Análise da Composição do PIB

Composição do PIB: Ótica da Oferta
Comparando a participação média dos componentes de Oferta no PIB, veremos que o Setor de Serviços ampliou sua participação em 1,8 pontos percentuais (de 66,76% em 2008 para 68,56% em 2009), o que ressalta seu desempenho positivo durante o ano.
Já o Setor Agropecuário (com participação anual média de 6,10%) também teve uma ampliação em sua participação uma vez que o Setor Industrial (cuja média foi de 25,35% do PIB) reduziu sua participação média em, aproximadamente, 1,95 pontos percentuais em relação a 2008. Contudo, podemos observar uma contínua recuperação da participação do Setor Industrial, principalmente sobre a participação da Agropecuária, a partir do 2º trimestre.

Gráfico 9


Composição do PIB: Ótica da Demanda
Analisando a Composição do PIB através dos componentes de demanda observaremos que o Consumo das Famílias manteve-se a frente dos demais com uma participação anual média de 62,80% do PIB (um aumento de 2,45 em relação a 2008). O Consumo do Governo também ampliou sua participação no PIB de 19,54%, em 2008, para 20,75%, em 2009.
Todos os demais componentes, por outro lado, apresentaram variação anual média negativa. Os Investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo e Variação de Estoques) caiu 3,41 pontos percentuais devido ao recuo de ambos seus componentes; enquanto a Balança Comercial apresentou-se como fator negativo ao PIB (representando uma participação média equivalente a -0,07% do PIB) devido à superação das Exportações pelas Importações a partir do 3º trimestre de 2009, apesar de ambos terem reduzido sua participação total no PIB.

Gráfico 10


Conclusões

Fomos capazes de observar que, apesar do fraco resultado e do leve recuo (-0,2%) apresentado pelo PIB brasileiro em 2009, a economia vem apresentando melhores resultados a partir do 2º trimestre do ano.
Particularmente, destacamos que o Setor Industrial e a Formação Bruta de Capital Fixo têm demonstrado tal tendência de crescimento alcançando, no último trimestre, taxas de variação na ordem de 3,99% e 6,57%, respectivamente. Estes resultados expressam a possibilidade de reaquecimento da economia para o ano de 2010.
Porém, também fomos capazes de perceber a preocupante situação do setor externo que se verifica desde o 3º trimestre de 2009 quando as Importações superaram as Exportações em valor nominal. Tal situação de desequilíbrio na balança comercial pode ser encarada, entre outros possíveis fatores, como conseqüência da manutenção de uma taxa de câmbio valorizada e tende a fragilizar a economia tornando-a mais vulnerável.
Devemos ressaltar, também, que uma possível elevação na taxa básica de juros, esperada para o decorrer do ano de 2010, tenderá a agravar tal situação externa, permitindo a manutenção de uma taxa de câmbio valorizada, e poderá frear a retomada da atividade interna nos próximos trimestres.

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