sábado, 15 de maio de 2010

Boletim de Conjuntura

Análise de Conjuntura da Indústria.

Rodolfo Nicolay e Mariana Ravizzini Bagno
Orientadora: Lérida Maria Lago Povoleri**

O último trimestre de 2008 foi marcado por uma queda da produção industrial na economia brasileira. Esta queda foi reflexo da crise mundial iniciada nos EUA a partir da desvalorização dos ativos ligados à dívida imobiliária do subprime, deixando muitas instituições financeiras em dificuldade e consequentemente, reduzindo o crédito na economia dado o cenário de alta incerteza gerado. Os reflexos das incertezas são observados no índice de confiança do empresário industrial (doravante ICEI), que mostra uma queda brusca nas expectativas no segundo e terceiro trimestres de 2008.

Gráfico 1: Índice de Confiança do Empresário Industrial

Fonte: CNI

Segundo o ICEI, após um primeiro e um segundo trimestre de expectativas pessimistas no ano de 2009, a confiança do empresário retornou, o que é refletido pela recuperação da indústria no segundo trimestre de 2009. O otimismo reflete em parte a dispersão dos efeitos da crise, e em parte os bons resultados apresentados pela demanda interna, que evitou um maior aprofundamento da crise no Brasil.
Com o retorno de expectativas positivas, a recuperação se torna mais sólida, o que é refletido na utilização da capacidade instalada da indústria, que após ficar estacionada, próxima ao nível mínimo atingindo após a crise no primeiro trimestre de 2009, começa a se recuperar de forma relevante no segundo trimestre de 2009, o que se confirma no terceiro trimestre de 2009 atingindo um patamar superior às expectativas iniciais pré-crise no quarto trimestre de 2009.


Gráfico 2: Utilização da Capacidade Instalada

Fonte: FGV

Apesar da recuperação percebida a partir do mês de janeiro de 2009 em relação à utilização da capacidade instalada, se intensificando a partir do mês de abril de 2009, a utilização da capacidade instalada continua consideravelmente abaixo do nível “pré-crise”. Após o nível mínimo de 76,7% em janeiro de 2009, os números relativos à indústria geral se recuperaram consideravelmente, atingindo 79,8% de utilização da capacidade instalada em julho de 2009 e 84,5% em novembro de 2009, atingindo seu valor máximo do ano, ainda sem conseguir atingir o patamar dos números pré-crise. No mesmo mês de outubro de 2008, a indústria apresentava 86,3% e em março de 2010 aprentou 82,3% o que mostra que o impacto da crise ainda está presente na economia, contudo os níveis atuais da economia estão próximos dos níveis do “pré-crise”.
O pior desempenho nos dois primeiros trimestres de 2009 é observado na indústria de bens de capital. Como este ramo do setor indústrial está ligada à execução de investimentos e estes dependem crucialmente das expectativas de expansão das vendas, esta indústria tende a ser a última a se recuperar, pois depende da recuperação de todas os outros ramos. Após atingir o nível mínimo de 73,3% em janeiro de 2009, a recuperação deste setor é contida e após quatro meses a indústria de bens de capital atingiu apenas 74% de utilização da capacidade instalada. Em relação ao mesmo mês de 2008, a queda chega á 14,5%, dado a utilização de 88,5% em abril de 2008.
A indústria de bens de consumo foi a primeira a evidenciar os impactos da crise no Brasil, atingindo ainda em dezembro de 2008 77,7% de utilização da capacidade instilada, chegando ao seu nível mínimo de 76,6 em janeiro de 2009.
Contudo, da mesma forma que esta indústria puxou a queda, também mostrou um movimento inicial de recuperação em conjunto com a indústria de transformação. Sendo que, na comparação entre abril de 2009 e o mesmo mês do ano de 2008, a indústria de bens de consumo é a que apresenta a menor diferença, apenas 5,9%.


Gráfico 3: Índice Quantum de exportação (média de 2006 = 100)

Fonte: Funcex

Em relação às exportações, a indústria apresenta uma pequena recuperação, puxada principalmente por bens intermediários e bens de consumo não duráveis. Os setores que tiveram a maior queda nas exportações foram o de bens de capitais e o de consumo de duráveis.
O setor de bens de consumo não duráveis, por ter a característica de não depender muito do crédito, quase não sofreu redução na quantidade exportada. É possível observar no gráfico 3 que após uma pequena queda no primeiro trimestre de 2009, a quantidade exportada já se encontra próxima aos níveis do “pré-crise”. Já o setor de bens intermediários, teve uma queda intensa no primeiro trimestre de 2009, mais sua recuperação foi rápida e o setor também já se encontra próximo aos níveis do “pré-crise”. Esta queda abrupta no primeiro trimestre de 2009 pode ser reflexo de efeitos sazonais, pois no mesmo período do ano anterior também foi registrada uma queda das exportações de bens intermediários.
Os setores que sofreram maior queda são aqueles que mais necessitam de crédito. Com a redução global do crédito, tanto os investimentos quanto o consumo dos bens duráveis sofreram contração em grande parte do mundo, o que repercute nas nossas exportações. O retorno aos níveis do “pré-crise” depende diretamente do retorno do crédito e da expansão da renda mundial.
Um dado importante para analisar o desempenho da indústria frente o resultado das exportações de produtos industrializados é o destino da produção. Como será apresentado a seguir, a queda das exportações gera dois efeitos, um direto e um indireto. O direto age sobre setores os quais os produtos passam a ser exportados em menor quantidade, enquanto o indireto age sobre os setores que produzem insumos para aqueles que sofreram redução nas exportações.

Tabela 1 – Desempenho da indústria e destino de produção

Fonte: BNDES1 (Com base em dados do IBGE, Secex, e Funcex)


Como pode ser observado, os setores que sofreram maior queda no período entre setembro de 2008 e o final do primeiro trimestre de 2009 foram eletrônica e comunicação com queda de 38%, máquinas e equipamentos com queda de 37%, materiais elétricos com queda de 37%, metalurgia básica com queda de 31% e veículos com queda de 29%. Contudo, nem todos os setores apresentados possuíram quedas consideráveis na exportação; metalurgia básica e materiais elétricos tiveram uma queda nas exportações relativamente baixa à sua queda na produção, contudo, como fornecem insumos para diversas indústrias, acabam sofrendo o efeito indireto da queda das exportações de outras indústrias.

Tabela 2: Crescimento da indústria (Base: média de 2002 = 100)

Fonte: IBGE

A indústria no final do segundo trimestre de 2009 ainda apresenta um nível consideravelmente abaixo dos níveis apresentados em setembro de 2008, antes da instalação da crise econômica. Contudo, em relação ao trimestre anterior, é possível visualizar uma melhora na maioria dos setores.
O resultado geral da indústria mostra um aumento de 3,6% no segundo trimestre de 2009 em relação ao primeiro trimestre do mesmo ano e no primeiro trimestre de 2010 também apresenta melhora de 5,30% em relação a dezembro de 2009. A indústria extrativa apresenta um crescimento de 3,13% e 4,32% nestes mesmos períodos enquanto a indústria de transformação apresenta uma melhora de 2,7% e de 4,83%.
Os setores que melhor responderam no segundo trimestre de 2009 foram o de veículos automotores que apresentou um crescimento de 12,24% em relação ao trimestre anterior respondendo aos incentivos fiscais da redução do IPI, nesse contexto, em março de 2010, último mês da redução do IPI a indústria apresentou um crescimento de 7,42% em relação a dezembro de 2009. Em geral, os setores que tiveram incentivos fiscais apresentaram uma recuperação considerável, máquinas, aparelhos e materiais elétricos teve uma melhora de 8,01% e material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação apresentou uma melhora de 6,55%. Outros setores como metalurgia básica, produtos químicos e farmacêuticos também tiveram um bom resultado no segundo trimestre de 2009. Essa expectativa de melhora se confirmou nos itens analisados a exceção do material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação que teve uma queda de 4,59% de setembro de 2009 para março de 2010.
Dentre os setores que não apresentaram bons resultados no segundo trimestre se encontram máquinas e equipamentos que apresentou uma queda de 2,21% no segundo trimestre de 2009 em comparação ao trimestre anterior. Esta queda reflete o fato de que o investimento normalmente é o último a responder, pois envolvem decisões de longo prazo com altos riscos inerentes, fato que se confirma, pois em comparação com setembro de 2009 esse item teve aumento de 18,2% em março de 2010.
Os outros setores que apresentaram queda considerável no segundo trimestre foram o de equipamentos médicos e de transportes, ambos fortemente ligados à execução de investimentos, mas que em 2010 já estão se recuperando.
Contudo, devemos também prestar atenção em um fenômeno que vem sendo observado nos últimos anos, que é a expansão da China nos mercados mundiais.
Apesar, da boa recuperação da indústria que pode ser observada nos dados apresentados acima, a China, país que apresenta um ritmo de crescimento altíssimo e vem conquistando mercados em todo mundo, representa, de fato, uma ameaça às exportações brasileira. Uma prova concreta deste fenômeno pode ser apresentada pela evolução dos preços de alguns produtos chineses em reais, o que mostra que além de estar tomando mercados exportadores brasileiros, a China também tem invadido o próprio mercado brasileiro inundando nossa economia com seus produtos.
Este processo de entrada de produtos chineses em nossa economia pode significar uma desindustrialização em alguns setores. Como os preços dos produtos chineses vêm, cada vez mais, barateando em relação aos produtos nacionais, os consumidores e firmas preferirão consumir produtos chineses, levando a demissões e falências em alguns setores.
Existem alguns elementos para a falta de competitividade da indústria brasileira frente os produtos chineses. O primeiro que pode ser sublinhado é a sobrevalorização do câmbio, que encarece os produtos brasileiros e barateia os produtos importados, gerando maior vantagem para China. Outro problema são os encargos: os produtos chineses são submetidos à menores encargos e taxações, fazendo com que seus produtos tornem-se mais baratos.


Fonte2: Secex e IBGE *preço médio em R$/quantidade. Elaboração: Fiesp

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