domingo, 6 de setembro de 2009

Análise de Conjuntura: Contas Nacionais

Alunos: Thiago Marino Leão Cardoso
Orientador: Marcelo Dias Carcanholo


O Brasil não passou incólume pela grave crise mundial que afeta ao mundo. Como observaremos nos tópicos seguintes, a retração no comércio internacional, a desvalorização cambial e a redução do consumo interno reduziram, consideravelmente, as expectativas de crescimento da economia brasileira no ano de 2008.

Poderemos observar que isto pode ser melhor sentido durante o último semestre do ano. Não faremos, aqui, uma previsão dos seus resultados no ano de 2009. Isto será feito separadamente nas outras seções deste boletim.

Análise da Variação dos Principais componentes do PIB no último Semestre de 2008

Após um contínuo período de aceleração da Taxa de Crescimento do PIB a preços de mercado (acumulada de 12 meses), iniciado no 3º trimestre do ano de 2006, esta apresentou, no 4º trimestre de 2008, uma redução de 4,43% em relação ao trimestre anterior, estabelecendo-se em 5,08%. Desta forma, o PIB brasileiro encerrou o ano com um valor corrente acumulado de R$ 2.889.718,58 milhões.

Gráfico 1

Fonte: elaboração própria

Durante o segundo semestre de 2008 foi possível observar a redução de diversos índices da economia brasileira, em especial no 4º trimestre onde quase todos apresentaram retração devido ao cenário mundial e às negativas expectativas que se formavam com relação ao futuro da economia.

Análise do PIB: Ótica da Oferta
Analisando o Produto Interno Bruto (PIB) através da ótica da oferta, podemos observar que, como apresenta o primeiro gráfico abaixo (Gráfico 2), todos os três setores econômicos, retirando-se a sazonalidade, retraíram-se, de forma geral, ao final do ano.

Neste cenário o Setor da Indústria, comumente expansivo durante o 4º trimestre, apresentou desempenho particularmente negativo, sofrendo forte redução produtiva no último semestre de 2008. Isto representou uma redução de 7,4%, em relação ao 3º trimestre de 2008, e de 2,03%, em relação ao mesmo período de 2007.

Ao mesmo tempo, podemos observar que o Setor de Serviços apresentou, também, um resultado incomum para este período do ano. Ao invés da normal expansão ao final do ano, o Setor de Serviços retraiu-se em 0,42% (desconsiderando-se a sazonalidade), em relação ao trimestre anterior.

Apesar disso, tanto o Setor Agropecuário quanto o Setor de Serviços apresentaram melhor rendimento em relação ao mesmo período de 2007 (crescimento de 2,38% e 2,68%, respectivamente). Por outro lado, o Setor da Indústria teve desempenho inferior em mais de 2% se comparado ao mesmo período do ano anterior.

Assim, a Oferta Agregada da economia reduziu-se em 0,65% (com relação ao seu valor corrente) no último período do ano. Apesar disto, todos os setores foram capazes de manter um desempenho acumulado positivo ao longo de 2008, como podemos observar no Gráfico 3, indicando, assim, que não houve retração em relação a 2007.

Gráfico 2

Fonte: elaboração própria

Gráfico 3

Fonte: elaboração própria

Temos, então, uma forte colaboração da Oferta para a redução do crescimento do PIB ocorrida no 4º trimestre de 2008. Transfiramos nossa atenção, agora, para a Demanda.

Análise do PIB: Ótica da Demanda
Neste caso não encontramos resultados muito diferentes dos apresentados anteriormente. Com exceção do governo, todos os principais conjuntos de consumo foram reduzidos no 4º trimestre de 2008. Como vemos abaixo, no Gráfico 4, o aumento de gastos governamentais e a desvalorização cambial foram capazes de sustentar parte considerável da retração de forma que a Demanda Agregada da economia reduzisse-se em apenas 0,02% do seu valor corrente, em relação ao 3º trimestre.

A retração no mercado mundial pode ser observada pela redução tanto das exportações (11,45%) quanto das importações (10,12%) brasileiras em relação ao 3º trimestre de 2008. Entretanto, destes dois apenas as importações mantiveram rendimento positivo com relação ao ano de 2007, ampliando-se em 7,63% enquanto as exportações retraíam-se em 7%.

O consumo das famílias contraiu-se ao 4º trimestre, algo particularmente incomum neste período, e apresentou desempenho de -1,86% com relação ao 3º trimestre de 2008.

Seguindo sua tendência normal, a Formação Bruta de Capital Fixo também apresentou redução no 4º trimestre de 2008. Porém, tal redução foi mais representativa do que as que ocorreram nos anos anteriores e, assim, este índice contraiu-se em 13,38%. Esta redução também foi acompanhada por uma forte variação negativa nos estoques.

Na “contra-mão” deste movimento recessivo, os gastos do governo ampliaram-se, no 4º trimestre, em 8,85%, com relação ao trimestre anterior. No entanto, uma análise desta variável indica que tal movimento não pode ser visto como incomum e, desta forma, não representa uma surpresa. Devemos observar, contudo, que tais gastos já se expandiam desde o 3º trimestre de 2008, diferentemente dos anos anteriores, e, por este motivo, pode caracterizar uma ação do governo em relação à crise.

Gráfico 4

Fonte: elaboração própria

Assim como no caso dos setores produtivos, estes indicadores mantiveram uma taxa acumulada positiva ao final do ano. A exceção disto, no entanto, foram as exportações que sofreram redução de 0,6%, em 2008, em relação ao ano de 2007. Em valores correntes, no entanto, as importações não ultrapassaram as exportações, mantendo-se um superávit de R$ 2.686,00 milhões no 4º trimestre.

Podemos observar no Gráfico 5, assim como o fizemos ao analisar o setor produtivo, que ocorreu uma forte desaceleração nos indicadores de consumo da economia brasileira durante o 4º trimestre de 2008 que apenas não apresentou maior impacto devido à desvalorização cambial, redução das importações e aumento dos gastos do governo. Observamos, também, que as exportações já apresentavam uma tendência de desaceleração desde o segundo semestre de 2007, o que poderia ser conseqüência da valorização crescente do real frente ao dólar, e que sem um posicionamento ativo do governo sobre a questão, tende a haver um déficit na balança comercial brasileira.

Gráfico 5

Fonte: elaboração própria

Análise da Composição do PIB

Composição do PIB: Ótica da Oferta
Observando a participação dos diversos setores produtivos no PIB corrente de 2008, em relação ao mesmo período do ano anterior, observamos uma pequena queda na importância do Setor Agropecuário. Isto foi resultado, provavelmente, da queda nos preços das commodities e pouco influenciou na participação geral dos setores, tanto no último trimestre como no ano de 2008 como um todo. Os demais setores ganharam pouca importância, se comparado ao 4º trimestre do ano anterior (e regrediram ao compararmos a média anual).

Vemos, assim, que não houve grande mudança estrutural na divisão produtiva brasileira, por razão da crise, durante o último período do ano.

Composição do PIB: Ótica da Demanda
Observando os componentes da Demanda, por outro lado, encontraremos maiores variações. Primeiramente, a balança comercial brasileira (exportações – importações), que já apresentava, gradualmente, menor participação com o passar dos trimestres, reduziu-se para apenas 0,15% da Demanda e 0,36% no 4º trimestre de 2008 (analisado isoladamente). Isto se deve não à redução da participação das exportações, mas a uma crescente importância das importações (de 12,14% do PIB em 2007 para 14,11% em 2008).

O Consumo das famílias, no 4º período de 2008, manteve-se estável e reduziu-se em apenas 0,57% do total, compondo 60,73% da demanda total de 2008. Já os investimentos cresceram em importância na média anual, apesar da forte queda que apresentou no 4º trimestre.

Desta forma, os gastos da administração pública assumiram maior papel e colaboraram com quase 23,87% da demanda do último trimestre (um aumento de 5,4% em relação ao trimestre anterior e de 1,44% com relação ao 4º trimestre de 2007).

Temos, assim, uma tendência de redução da participação dos investimentos durante este período de crise, assim como uma aparente redução da importância da balança comercial e seu possível déficit caso as importações não sejam freadas. Por outro lado, vemos uma possível atuação do governo conforme sua participação torna-se mais importante no consumo da economia nacional.

Gráfico 6

Fonte: elaboração própria

Conclusões

Observamos, então, que a Oferta Agregada da economia brasileira não passou incólume pela crise e que foi afetada tanto pela redução da demanda interna quanto externa. Temos, também, a problemática tendência ao déficit na balança comercial devido ao aumento das importações e redução das exportações facilitadas pela valorização do Real frente ao Dólar.

Em resposta a estes indicadores, e representando as negativas perspectivas dos empresários com relação à economia em 2009, percebemos a redução dos investimentos.

Podemos concluir que caso o governo brasileiro não intervenha sobre a taxa de câmbio poderemos enfrentar um sério problema na balança comercial. Da mesma forma uma ação do governo faz-se necessária para estimular o consumo interno e, principalmente, a retomada dos investimentos e da produtividade por parte dos empresários para evitar um estado recessivo e o desemprego.



Postado por:

Thiago Marino Leão Cardoso
Estudante de Economia na Faculdade de Economia da UFF
Integrante do grupo PET Economia/UFF
e-mail: thiago_mlc@ig.com.br

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