domingo, 6 de setembro de 2009

Análise de Conjuntura: Emprego

Aluno: Thiago Marino Leão Cardoso
Orientador: Marcelo Dias Carcanholo


Em meio ao cenário de retração econômica mundial é esperável não apenas a queda nas exportações e na produção de diversos países como o aumento do desemprego e a redução da renda também se apresentam como possíveis conseqüências da conjuntura internacional.

Procuraremos, aqui, analisar a reação da economia brasileira à crise econômica mundial através do estudo dos índices relativos ao mercado de trabalho e à renda dos trabalhadores brasileiros.

Teremos como objetivo, também, tentar determinar as condições futuras através da análise dos primeiros meses de 2009 como forma de destacar possíveis tendências.

Análise da Ocupação nas Regiões Metropolitanas

Podemos observar no Gráfico 1 – indica a evolução do número de pessoas ocupadas nos diversos setores das regiões metropolitanas – que tal indicador apresentou uma trajetória de crescimento desde o início do período apresentado. Tal tendência, abalada apenas por razões sazonais, manteve-se constante até dezembro de 2008 quando ocorreu uma redução de 353 mil empregos formais. Embora comum nesta época do ano, a redução de postos de trabalho excedeu a normalidade em função da retração econômica advinda da crise mundial e da inversão de expectativas da economia brasileira quanto ao ano de 2009.

Gráfico 1

Fonte: elaboração própria

No entanto, tais números não demonstram de forma segura as variações do Nível de Ocupação. Ao observarmos a Taxa de Ocupação podemos analisar com segurança a magnitude das oscilações observadas anteriormente em relação ao total da PEA. Como vemos no Gráfico 2 abaixo, esta redução na população ocupada representou uma queda de 2,25% da Taxa de Ocupação das regiões metropolitanas no Brasil.

Mesmo assim, é visível uma melhora nos índices de Abril e, como podemos perceber ao analisarmos os períodos anteriores, pode indicar uma recuperação do emprego nos próximos meses. Verifica-se, no período anterior representado, a tendência à queda da Taxa de Ocupação até o fim do primeiro semestre do ano e sua recuperação nos meses seguintes.

Apesar disso, é importante ressaltar a forte queda da Taxa de Ocupação além dos seus níveis normais em função da retração econômica e das perspectivas negativas quanto ao futuro indicando o aumento do grau de ociosidade da economia.

Gráfico 2

Fonte: elaboração própria

Análise da Distribuição da População Ocupada nas Regiões Metropolitanas
Em meio à redução na ocupação das pessoas em regiões metropolitanas pouco foi afetada a divisão entre as áreas de atividade.

De setembro de 2008 a abril de 2009 as atividades industriais perderam 0,67% do total relativo de trabalhadores enquanto os principais serviços cresceram, em importância, apenas 0,31%. Isto revela que não houve grandes variações específicas na distribuição dos empregos na economia e que os efeitos recessivos foram sentidos de forma relativamente semelhantes pelos diversos setores.

Gráfico 3

Fonte: elaboração própria

Análise do Salário Mínimo Real e do Rendimento Efetivo

Considerando um período desde o início do governo Lula somos capazes de observar o aumento progressivo tanto do salário mínimo quanto do seu valor real.

Gráfico 4

Fonte: elaboração própria

Já os Rendimentos Efetivos Reais dos trabalhadores metropolitanos, no entanto, obtiveram uma recuperação após a forte queda sofrida em 2003, da qual apenas se recuperaria, de forma consistente, em 2009.

Ao observarmos o Gráfico 4, percebe-se o fenômeno ocorrido durante o mês de dezembro, quando os rendimentos elevam-se consideravelmente. Desconsiderando-se este efeito, podemos perceber que os rendimentos apresentam um crescimento equilibrado neste período e que, em 2009, esta situação ainda não apresenta mudanças. Na verdade podemos observar que o “bônus” de fim de ano apresentou um valor considerável em 2008, contrariando os efeitos da crise neste ano.

Gráfico 5

Fonte: elaboração própria

Análise da Evolução do Desemprego

Ao observarmos os níveis de desemprego no Brasil, indicados pelo Gráfico 5, poderemos observar que tal índice apresentou tendência redutiva no período entre 2004 e 2008. Apesar de ter ocorrido um “pico” de desemprego em Abril de 2004 (13,1%) e um período de oscilação em 2006, todos os anos apresentaram, se analisados integralmente, uma redução desta taxa.

Mesmo com a desaceleração econômica iniciada na passagem do 3º para o 4º trimestre de 2008, a Taxa de Desemprego reduziu-se de 8% em Janeiro para 6,8% em Dezembro, que representou a menor taxa do ano.

No entanto, podemos observar uma considerável elevação de Dezembro de 2008 para Janeiro de 2009, de 6,8% para 8,2% (valor superior à Janeiro do ano anterior) e a continuidade do aumento do nível de desemprego até Março, onde alcançou o valor de 9%.

Apesar de haver um aumento considerável do Nível de Desemprego neste 1º trimestre de 2009 é possível notarmos um início de recuperação destes índices já em Abril.

Gráfico 6

Fonte: elaboração própria

Análise das Admissões na Indústria

Analisemos, agora, a reação da indústria a este momento da economia mundial. Podemos verificar de imediato que, ao contrário do indicado anteriormente, este setor apresenta uma tendência de repulsão de trabalhadores durante o mês de dezembro.

Notaremos, também, que os efeitos da crise atingiram primeiramente este setor e que desde outubro de 2008 a Taxa de Admissão se encontrava abaixo da média anual, assim como, também, da Taxa de Desligamento. Isto se deveu, provavelmente, à retração do comércio internacional e, principalmente, às negativas expectativas quanto ao desenrolar do panorama econômico em 2009.

Tal situação se mantém durante o início de 2009 e não apresenta fortes indicações de mudança, embora haja recuperação das taxas de admissão (recuperação esta que é equilibrada pelo aumento dos desligamentos).

Ao analisarmos o Gráfico 6, podemos observar a desproporcionalidade das demissões ao final de 2008, assim como o fraco rendimento das contratações nos primeiros meses de 2009.

Gráfico 7

Fonte: elaboração própria

Conclusões e Perspectivas

Percebemos, através das análises anteriores, que, desde o mês de outubro de 2008, o setor industrial da economia brasileira apresenta retração na geração de empregos. Tal tendência manteve-se nos primeiros três meses de 2009 onde a criação de empregos ficou aquém dos números apresentados nos anos anteriores apresentando, inclusive, desempenho negativo em janeiro. Isto, em conjunto com a redução de dezembro, que apresentou um desempenho muito pior do que o normal, indica um posicionamento pessimista dos empresários em relação ao ano de 2009 e à retomada do crescimento.

Como vimos, o setor industrial perdeu pouca importância no percentual de trabalhadores metropolitanos empregados o que indica uma redução equivalente nas demais áreas de atuação.

Tal relação é indicada, também, pelo crescimento do desemprego para patamares que superam os índices de 2008 e não indicam tendência de recuperação, embora o período de recuperação, ou crescimento, do emprego seja, justamente, os meses que seguem de junho a setembro.

Desta forma, torna-se prematuro construir uma perspectiva mais fechada para o resultado do final do ano. Embora possa existir uma perspectiva de recuperação impulsionada pelos contratos no meio do ano, a continuidade provável das expectativas recessivas dos empresários impedirá melhores desempenhos destes indicadores e o aumento do emprego.

Podemos, por outro lado, observar que o rendimento dos trabalhadores ocupados mantém sua trajetória de crescimento equilibrado e que tais condições não apresentam sinais de reversão, por enquanto, de acordo com os dados gerais.



Postado por:

Thiago Marino Leão Cardoso
Estudante de Economia na Faculdade de Economia da UFF
Integrante do grupo PET Economia/UFF
e-mail: thiago_mlc@ig.com.br

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