sábado, 5 de setembro de 2009

Boletim de Conjuntura
Política Monetária e Crédito
Alunos: Fernando Cruz e Cyntia Lima
Orientador: Victor Leonardo Araujo

Crédito

Seguramente, o crédito foi um dos mecanismos através dos quais a crise econômico-financeira que assolou o mundo em 2008 fez-se sentir no Brasil.
Como podemos perceber pela tabela 1 a seguir as operações de crédito apresentam uma inflexão a partir de setembro, crescendo a taxas cada vez menores e praticamente se estabilizando em 2009. As operações de crédito com recursos livres foram mais afetadas pelos efeitos da crise. Os dados do primeiro trimestre de 2009, indicam uma ligeira recuperação do crédito, sugerindo um lento retorno à normalidade vigente no período pré-crise.



A desagregação dos dados permite perceber que a crise afetou diferentes segmentos de maneiras distintas. Os gráficos 1 e 2 permitem notar de imediato a desaceleração do crédito livre para pessoa jurídica já em outubro, bem como seu decréscimo a partir de dezembro de 2008 com pico de 476.890,27 milhões de reais. Esse tipo de operação refere-se a recursos obtidos a taxas de juros livremente pactuadas entre tomador - no caso pessoa jurídica - e credor e portanto evidencia, principalmente a partir de dezembro , a contração nos planos de novos investimentos. Já os recursos livres para pessoa física mostram uma pequena desaceleração de outubro para novembro, com a retomada do crescimento a partir de então.
No caso dos recursos direcionados, realizados a taxas geralmente estabelecidas por regras ou repasses governamentais, aos setores rural, de habitação e de infra-estrutura, estes foram sustentados, sobretudo, pelos empréstimos do BNDES, que também sofreram desaceleração na entrada do ano de 2009, o que pode fortalecer a tese de que foi a demanda por crédito a grande responsável por sua queda.





É necessário enfatizar que, não fosse pela expansão dos empréstimos de bancos públicos como BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, os dados de crédito mostrar-se-iam mais desanimadores, dada a desaceleração dos empréstimos de bancos privados nacionais e estrangeiros. Assim, a expansão do crédito direcionado ou a aquisição de carteiras de bancos privados foi usada com uma ferramenta anti-cíclica após a pane financeira. De fato, o crédito direcionado sofreu uma desaceleração menor do que o crédito livre.



Os dados referentes ao spread bancário também sugerem um lento retorno à normalidade pré-crise. O gráfico 2 a seguir aponta a ocorrência de uma acentuada elevação do spread bancário a partir de setembro de 2008, tendo o seu ápice no mês de dezembro. O recuo ocorre já no mês de seguinte, de modo que, já em março, o spread bancário para pessoas físicas já recuou para o nível vigente em setembro. Já o spread para pessoas jurídicas, embora apresenta um ligeiro recuo a partir de março, está ainda distante dos patamares pré-crise. A redução da liquidez internacional gerada pela crise criou dificuldades de captação por parte dos pequenos e médios bancos, que têm importante expressão no crédito para micro e pequenas empresas. O resultado é o aumento das taxas de aplicação. A lentidão das condições do mercado financeiro internacional em retornar às condições normais explica a lentidão do retorno do spread bancário para pessoas jurídicas aos patamares pré-crise, o que deverá ocorrer nos próximos meses.





Juros e inflação

O surgimento de pressões inflacionárias durante o primeiro quadrimestre de 2008, originadas por choques de custos (commodities agrícolas e petróleo) levaram o Banco Central a iniciar, de abril a setembro, um movimento de elevação da taxa Selic. Além do choque de custos, o Banco Central identificara ainda a existência de um desequilíbrio grande entre oferta e demanda na economia sendo preenchido por aumento das importações, o que agravaria o déficit em conta corrente. Este quadro teria justificado, segundo o corpo técnico do Bacen, a implementação de medidas que conduzissem à desaceleração da atividade econômica. Assim, o movimento de elevação da taxa Selic foi iniciado em abril daquele ano. A manutenção dos juros em patamares elevados a partir de setembro era justificada pelo corpo técnico do Bacen pelas preocupações quanto aos prováveis efeitos inflacionários da desvalorização cambial ocorrida a partir do agravamento da crise, não obstante a queda dos preços do petróleo e das commodities agrícolas e seus prováveis efeitos deflacionários. Apesar da intensificação da crise internacional a partir de setembro de 2008, o Banco Central foi excessivamente lento em iniciar o movimento de redução da taxa Selic, o que somente ocorreu em janeiro de 2009, ainda assim de forma modesta.



De acordo com o gráfico 1 abaixo, as pressões inflacionárias decorrentes do item alimentos e bebidas foram arrefecidas, recuando quase 8 pontos percentuais no acumulado em doze meses desde junho de 2008, ápice da inflação neste item. Evidentemente, tal movimento não está associado às medidas contracionistas adotadas pelo Banco Central, mas à queda dos preços internacionais das commodities agrominerais. De todo modo, é importante constatar que as pressões inflacionárias que vigoravam no primeiro semestre de 2008 e que levaram o Banco Central a elevar a taxa Selic foram diluídas.



Na comparação entre preços monitorados e preços livres, os primeiros têm descrito trajetória de alta. Este movimento decorre dos contratos reajustados pelo IGP-M (tais como aluguel, serviços de telecomunicações, energia, etc.), índice que registrou forte aceleração durante todo o ano de 2008, mas que recuou fortemente a partir de janeiro de 2009. Espera-se, assim, um forte recuo dos preços monitorados à medida em que os efeitos da desaceleração do IGP-M façam-se sentir nos contratos a ele indexados.



Além de todos esses fatores que apontam para a inexistência de risco de aceleração inflacionária para o ano de 2009, somam-se a tendência de apreciação cambial combinada com a desaceleração econômica mundial.
Não havendo qualquer possibilidade de aceleração da inflação para o ano de 2009, o único empecilho para a redução da Selic seria a regra que determina a rentabilidade da caderneta de poupança. Em um cenário de Selic em queda, se a caderneta de poupança tornar-se mais atraente que os títulos públicos, o governo federal pode deparar-se com dificuldades para rolagem da dívida pública, sendo esta a razão apontada pelo Copom para impedir reduções mais acentuadas da Selic. As mudanças da regra estão em estudo pelo governo federal, sinalizando uma solução para breve, o que possibilitará novas reduções da taxa Selic.

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