quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Análise de Conjuntura da Indústria

Alunos: Rodolfo Nicolay e Lívia Martins

Orientadora: Lérida Maria Lago Povoleri

O agravamento da crise em setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, passa a influenciar negativamente a indústria brasileira a partir de outubro de 2008. Até então, os indicadores industriais apresentavam crescimento do setor industrial. A partir de outubro de 2008, as indústrias passam a sentir os efeitos do agravamento da crise, apresentando uma tendência de retração verificada até ao final do trimestre, em dezembro. A partir de janeiro de 2009, o indicador de produção industrial, com dados dessazonalizados, esboça uma possível tendência de recuperação da atividade industrial. No mês seguinte, fevereiro de 2009 comparando com dezembro/08, o índice apresenta crescimento para a indústria geral, indústria extrativa e indústria de transformação de 3.98%, 1.94%, 3.37% respectivamente.

Destaca se o setor de Veículos Automotores que em fevereiro/09 cresceu 52.18% em relação a dezembro/08. Essa recuperação está sendo atribuída pelos orgãos de classe e por vários analistas como que relacionada com a medida do governo em reduzir o IPI sobre os veículos a partir de dezembro/08, o que vem estimulando a demanda por carros novos..

A partir da tabela 1, podemos observar que as atividades menos afetadas pela crise foram àquelas associadas às necessidades básicas, algumas como: bebidas e alimentos obtiveram crescimento comparando com o valor de outubro de 2008, ponto inicial da queda na produção industrial.

As atividades relacionadas à produtos químicos também obtiveram um crescimento considerável no período após o inicio da retração, onde comparando a variação mensal, observamos que o crescimento obtido entre outubro de 2008 e novembro de 2008 foi de aproximadamente 8,13% em refino de petróleo e álcool e 4,84% em outros produtos químicos.

As atividades mais atingidas pela crise foram àquelas relacionadas a bens de capital, metalurgia e bens de consumo duráveis, ou seja, aquelas que dependem do crédito e das exportações. A atividade de metalurgia vem sofrendo quedas constantes, dando destaque para os 18,64% de retração entre os meses de novembro de 2008 e dezembro de 2008, essa retração está associada também à inserção da China no mercado latino americano, fazendo o Brasil perder parte do seu mercado.

O setor de bens de capital sofreu uma retração forte a partir de outubro que permanece até o último dado obtido referente a março de 2009 sem esboçar nenhuma recuperação. A queda acumulada do período compreendido entre setembro de 2008 e março de 2009 chega a aproximadamente 33% para máquinas e equipamentos.



Em relação à utilização da capacidade instalada da indústria geral, é visível uma queda a partir do mês de novembro/08, até janeiro/09: no período a utilização da capacidade instalada despencou de 86,3% para 76,7%. A partir de janeiro/09 é notada uma recuperação tímida, mas que vem se mantendo, alcançando 77,6% em abril/09. Essa queda da utilização da capacidade instalada pode estar refletindo o pessimismo do setor, uma vez que o consumo e as exportações de industrializados se reduziram e também o crédito sofreu retrações.

O setor mais atingido foi o de bens de capital, este que apresentava a maior utilização da capacidade instalada, sofreu a maior queda e foi o que mais demorou a esboçar uma recuperação, que ainda é bem discreta, somente 0,6% de fevereiro para março. O maior impacto neste setor é reflexo da incerteza que se instala na economia em tempos de crise fazendo com que o investimento, que é o componente mais instável da demanda agregada flutue bruscamente. Em conjunto com o aumento da incerteza, podemos também citar a contração do crédito e a menor expectativa de vendas, principalmente nos setores voltados à exportação.

Gráfico 1 - Utilização da capacidade Instalada da Indústria média, bens de capital, bens de consumo e bens intermediários.

Fonte: FGV

Ao analisar se a exportação de produtos industrializados, percebe se uma nítida queda a partir de outubro de 2008, essa queda se intensifica em dezembro do mesmo ano e atingindo aproximadamente 5,9 bilhões de dólares em fevereiro de 2009, quando o valor em setembro de 2008 era de aproximadamente 12 bilhões de dólares, dessa forma, em valor, as exportações se reduziram à metade em 5 meses. Contudo, não podemos nos iludir com esses valores, nem toda movimentação no valor das exportações faz referencia à quantidade produzida pela indústria. Seria necessário desagregar as importações em preços e quantum para poder fazer uma análise mais consistente.

Gráfico 2 - Exportação de produtos industrializados em U$ milhões

Fonte: MDIC/Secex

Ao desagregar se as exportações de produtos manufaturados, percebemos que a redução não se deu apenas sobre a grandeza valor, o índice de quantum também sofre queda a partir de outubro de 2008, tendo janeiro de 2009 a maior queda registrada. Dessa forma podemos ter conclusões baseadas em dados mais palpáveis. A redução das exportações em quantidade, indica redução do mercado consumidor da indústria, a menos, é claro que essa redução fosse compensada pelo mercado interno. A queda das exportações é fruto da recessão enfrentada pelo mundo. Os sinais dessa redução nas exportações da indústria é nítido pela queda da utilização da capacidade instalada observado no gráfico 1 e pela queda da produção industrial observado pela tabela 1.

Gráfico 3 - Exportações - produtos manufaturados - quantum - índice (média 2006=100)

Fonte: Funcex

Analisando o índice de confiança do empresário industrial, onde valores acima de 50 significam expectativas otimistas, o 1º trimestre de 2009 é o primeiro trimestre desde o 4º trimestre de 2002 onde as expectativas dos empresários industriais são pessimistas assumindo um valor de 47,4. A partir desse índice, é possível compreender e justificar a redução da utilização da capacidade instalada nos últimos meses de 2008, onde na média do último trimestre o valor foi pouco maior do que 50, e principalmente em explicar a manutenção desse nível nos primeiros meses de 2009 uma vez que a expectativa se mostrou pessimista para 1º trimestre de 2009.

Gráfico 4 - Índice de confiança do empresário industrial (ICEI): geral

Fonte: CNI

Na indústria de bens de transformação, a utilização da capacidade instalada (UCI) em março/09 apresentou um crescimento de 0,5 ponto percentual comparado com o mês anterior, atingindo 78,7% (indicador dessazonalizado). Esse pequeno sinal de recuperação deve ser analisado com cautela, uma vez que o cenário industrial está em um nível baixo dando uma base de comparação muito fraca (BRASIL, 2009). Isto se comprova quando se compara com o mesmo período do ano de 2008, em que a UCI estava em 83,0%, uma redução de 4,3 p.p..



Os setores que se destacaram em um aumento da UCI no mês de março foram Veículos Automotores com aumento de 2,5 p.p.; Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos (4,6 p.p.); Borracha e Plástico (3,8 p.p.); Couros e Calcados (4,0 p.p); e Alimentos e Bebidas (4,0 p.p) comparativamente com mês de fevereiro. Porém, se analisar estes setores com o mês de março de 2008, observa-se que UIC ainda está em um patamar abaixo. Apenas setor de Outros Equipamentos de Transporte apresentou melhora significativa em março comparando com o mesmo período de 2008, atingindo um crescimento da UIC de 6,1 p.p, embora esteja estável comparativamente com mês de fevereiro deste ano. O segmento de vestuário eleva sua UIC em 0.6 p.p entre mar/09 a marc/08. Comparando com o indicador de fevereiro/09, houve uma melhora de 2,4 p.p..




Postado por:

Rodolfo Nicolay
Estudante de Economia na Faculdade de Economia da UFF
Integrante do grupo PET Economia/UFF
e-mail: roddy_nic@hotmail.com

2 comentários:

  1. Rodolfo e Lívia,

    A análise de conjuntura está objetiva e toca na cautela que devemos ter quanto à recuperação econômica. No entanto, em minha opinião, a contração do crédito e queda nas expectativas de vendas se deve ao aumento da incerteza a respeito dos rumos da economia. Em outras palavras, a incerteza atua em conjunto com a contração de crédito e a queda nas expectativas de vendas, ela é o determinante do movimento dessas duas variáveis.

    Abraço,

    Henrique Braga
    Mestrando em Economia da Unicamp

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  2. Concordo com você Henrique, e certamente a parte de crédito do Boletim cubrirá essa lacuna. Brevemente as outras partes do boletim serão postadas dando um parnorama geral e mais completo da economia.

    Rodolfo Nicolay
    Estudante de Economia na Faculdade de Economia da UFF
    Integrante do grupo PET Economia/UFF
    e-mail: roddy_nic@hotmail.com

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